São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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Arbitragem paulista tolera palavrões

VALMIR STORTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os árbitros do Campeonato Paulista punem pouco os jogadores que falam palavrões.
Pelo Código Brasileiro Disciplinar de Futebol, as ofensas graves devem ser punidas com o cartão vermelho (expulsão).
Esses números foram levantados pela Folha a partir dos códigos com os quais os juízes preenchem as súmulas dos jogos que dirigem.
A súmula é o documento oficial de uma partida, uma espécie de relato do árbitro à Federação Paulista de Futebol. É usada, até mesmo, no julgamento dos jogadores.
Os códigos de expulsão por "ofensas morais" são "08V" (entre atletas) e "09V" (atletas para árbitros ou auxiliares).
Seguindo a orientação da FPF para coibir a violência, os juízes mostraram neste ano 14% mais cartões vermelhos e 38% mais amarelos do que no Paulista de 95.
A repressão ajudou a diminuir a quantidade de faltas no torneio. No ano passado, aconteciam 50 faltas por jogo. Neste ano, são 46.
"A arbitragem paulista está reconquistando o respeito perdido nesses últimos anos, sem utilizar de prepotência", afirmou o árbitro Nélson Aparecido Sônego, que mostrou 32 cartões amarelos e 9 vermelhos em 4 jogos -na média, o mais rigoroso da competição.
Flexibilidade
Os juízes dizem ser tolerantes com os palavrões porque apontam diferença entre o proferido para agredir e o usado para desabafar.
"Procuro advertir verbalmente o atleta que fala palavrão e então chamo o capitão da equipe para interceder. Sou tolerante por acreditar que seja um desabafo", declarou Oscar Roberto Godoi.
Para Alfredo dos Santos Loebeling, que mostrou 60 amarelos e 5 vermelhos em seus 6 jogos -o terceiro mais rígido-, existe certa passividade entre os árbitros.
"Já presenciei cena em que o jogador xingou o auxiliar (bandeirinha) e ele fingiu que não escutou. Não se pode ser omisso", disse.
"Mas isso vai mudar com o tempo. Há pouco o sobrepasso do goleiro não era marcado e agora é apontado com mais frequência."
Despreparo
Alfredo Loebeling acha que as punições só diminuirão com a mudança da cultura do atleta.
"Eles não sabem o que pode e o que não pode, desconhecem a regra e, por isso, são punidos, às vezes de forma tola."
O meio-campista Djalminha, o mais indisciplinado do Palmeiras (1 vermelho e 4 amarelos), afirma que o palavrão faz parte do jogo.
"Entre os companheiros, é usado para chamar a atenção. Contra o adversário, uso para reclamar de uma falta dura."

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