São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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Bom senso parece guiar os passos de Zagallo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O reencontro com Zagallo, propiciado pelo "Roda Viva" da Cultura, foi, como sempre, agradável, com uns toques inevitáveis de bom humor, embora velhas pinimbas permaneçam ainda vivas.
Mas isso é coisa de velho, e o velho Lobo dos campos, hoje em dia, anda muito mais complacente com as críticas do que há duas décadas, ainda que se ressinta do estigma de retranqueiro que o perseguiu a vida toda, como jogador e, sobretudo, como técnico. Ou, a de teimoso, que ele refuta.
A propósito, hoje toda a imprensa esportiva carioca deve estar recorrendo a este chavão, posto que Zagallo ousou não convocar Romário, o centro de uma violenta campanha encetada por poderoso lobby, uma generosa cesta onde cabem, além da imprensa, o Flamengo, seus patrocinadores etc.
"Se Romário recuperar a forma física e estiver em ponto de bala, até posso chamá-lo, sim, pois dentro da área ele é impecável. Mas, antes, ele vai ter de entrar em forma."
Não bastam, pois, a pressão dos críticos e a meia dúzia de gols conquistados por Romário até agora, no Campeonato Carioca. Isso é teimosia? Não, isso é precaução, bom senso. Assim como é o bom senso que parece guiar os passos de Zagallo nestes dois meses que precedem a Olimpíada.
Por exemplo: a simples presença de Aldair pode liberar mais uma vaga entre os veteranos acima de 23 anos. Dessa forma, ao invés de convocar, digamos, Aldair e André Cruz, queimando uma vaga para o meio-campo, Zagallo prefere torcer para que o companheiro de Aldair -ou Alexandre Lopes, ou Ronaldo-, qualquer um que esteja no limite de idade imposto pela Fifa, complete a zaga sem problemas.
Engana-se, porém, quem acha que Dunga, o símbolo da Copa, é o preferido de Zagallo. Em primeiro lugar porque o técnico parece muito satisfeito com as atuações de Flávio Conceição e Amaral, sem falar em Zé Elias, outro garoto de ouro para o setor. Na verdade, essa vaga está sendo guardada com esmero para Rivaldo, um armador-atacante que ganhou de vez a preferência de Zagallo:
"O Rivaldo, além de cumprir todas as funções que a posição exige -marcar, fechar espaços, lançar e projetar-se ao ataque-, leva a vantagem do físico mais desenvolvido do que a maioria dos jogadores."
Resta, pois, o terceiro veterano, o atacante, aquele que haverá de conferir à linha ofensiva a experiência e a precisão nos remates que são indispensáveis a um candidato à medalha de ouro como o Brasil. Neste caso, Bebeto, que ontem foi convocado para o amistoso contra a África do Sul, está alguns corpos adiante dos demais, incluindo, lógico, Romário.
Não só pelo temperamento mais dócil e por estar ainda em boa forma, aos 32 anos, mas, principalmente, pelo estilo de jogo. Para Zagallo, o avante, como de resto todo o time, tem de se movimentar o tempo todo, ao contrário de Romário ou Túlio, dois centroavantes fixos, embora letais nas finalizações.
Isso, claro, não os exclui de uma possível chamada às vésperas da Olimpíada. Mas, vão ter de rebolar muito antes disso.

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