São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 1996
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Conservador vai analisar casamento gay

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sem receio de que sua imagem fique associada à causa homossexual, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi escolhido relator do projeto que reconhece a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
O projeto é de autoria da deputada Marta Suplicy (PT-SP). "Acho que vai ter mais impacto se o relatório favorável for feito por uma pessoa neutra, como é o deputado", disse Marta.
Perguntado se tinha algum amigo homossexual, Jefferson disse que não. "Na verdade, eu sei que é mesmo só um: o cabeleireiro da minha mulher. Do resto eu não posso falar", afirmou.
Polêmico, Jefferson afirma ter "faro" para abraçar causas controversas. Cita como exemplos sua posição contrária a boa parte da Constituição de 1988, sua lealdade ao ex-presidente Fernando Collor durante o impeachment e, agora, a proposta da união homossexual.
Antes de dar seu parecer sobre a proposta, Jefferson afirma que vai ouvir setores da igreja, antropólogos e psiquiatras. "Quero saber a opinião de todo mundo", disse.
À época da Constituinte, uma emenda do deputado José Genoino (PT-SP) pretendia a regularização do casamento homossexual. Por forte pressão dos membros da situação, a emenda foi derrotada. Jefferson não votou -seu partido fechara questão contra a proposta.
A seguir, trechos da entrevista que o deputado deu à Folha:
*
Folha - O sr. é favorável à união entre homossexuais?
Roberto Jefferson - Acho que eles são seres humanos e merecem respeito. A opção existe e sempre existiu. A sociedade deve parar e pensar sobre isso.
Folha - O sr. faz parte de um setor conservador do Congresso. Por que o sr. acha que a deputada Marta Suplicy o indicou relator?
Jefferson - Porque ela sabe que não tenho nenhum preconceito. Esse projeto tem uma finalidade absolutamente econômica.
No caso de um dos dois morrer, o outro pode receber herança e ter benefício da Previdência.
Folha - É verdade que o sr. tem ouvido piadas depois que aceitou a relatoria?
Jefferson - Sim. Ficam me perguntando se a união entre gays vai ser obrigatória. Não me proponho a ser o deputado da categoria. É importante ter bom humor e aguentar as piadinhas.

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