São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 1996
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Novo depoimento incrimina Clarimundo

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-gerente de controle financeiro do Banco Nacional Omar Bruno Corrêa disse, em depoimento à Polícia Federal na semana passada, que era Clarimundo Sant'Anna quem mandava alterar as datas de vencimento e as taxas de juros nas 652 contas suspeitas de servirem para empréstimos fictícios.
O advogado George Tavares, que defende Corrêa e Sant'Anna, ex-vice-presidente de Controladoria do Banco Nacional, confirmou que Corrêa "atendia a pedidos de Sant'Anna" para fazer as alterações por intermédio do sistema Cena (Correio Eletrônico do Nacional).
O advogado disse querer ver "o que eles vão apurar". Tavares disse que, para se configurar o crime, "tem que haver dolo".
A Folha tentou falar diretamente com Bruno Corrêa e Clarimundo Sant'Anna, mas os telefones de ambos estavam ligados a secretárias eletrônicas.
Começou negando
Em depoimento posterior ao de Corrêa, o analista de sistemas do Nacional Nedir de Abreu Pimenta Filho -que fica baseado em São Paulo-, disse que todas as comunicações do Cena sobre estas contas eram enviadas por Bruno Corrêa.
Corrêa começou o depoimento negando que tivesse qualquer conhecimento sobre a existência das 652 contas.
No entanto, foi confrontado com comunicados do Cena pedindo a Pimenta Filho que alterasse datas de vencimento e taxas de juros das 652 contas.
Créditos fictícios
Neste momento, o delegado Paulo Lacerda, que preside o inquérito na PF para apurar notícia-crime do BC (Banco Central) sobre os créditos fictícios, disse que, se ele negasse tudo, seria responsabilizado sozinho pelos crimes.
Corrêa, então, disse que Sant'Anna é quem dava as ordens para que fossem feitas as alterações.
Pimenta Filho que, ao contrário de Clarimundo Sant'Anna e Corrêa, foi aproveitado como funcionário do Unibanco depois da fusão dos dois bancos, disse que as modificações nas 652 contas tinham padrão diferente das demais cerca de 1,2 milhão de contas do Nacional.
Por isso, Pimenta Filho teve que criar uma rotina diferente para elas, chamada de "parametrização".
O processo consistia em colocá-las dentro dos parâmetros para serem aceitas pelo sistema.
Todas as contas tinham o código 917 na administração do Banco Nacional.
A Procuradoria da República no Rio, que apura em inquérito paralelo ao da Polícia Federal a notícia-crime do BC, acredita que Pimenta Filho não esteja envolvido nas fraudes.
Aparentemente, ele apenas dava soluções técnicas para as ordens de Corrêa.
Otimismo
Tanto a Polícia Federal quanto a Procuradoria da República estão otimistas com o andamento das investigações.
A PF tem ouvido também titulares de contas correntes utilizadas no esquema sob suspeita.
Todos, até agora, confirmaram que deixaram de movimentar as contas -consideradas "fantasmas"- há muitos anos.
Houve uma exceção, de uma empresa mineira, que parou de movimentar a conta e voltou a fazê-lo anos depois.
As investigações sobre este caso mostram que o Nacional criou uma conta paralela para continuar a fazer os supostos empréstimos fictícios. Na outra conta, havia a movimentação normal.

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