São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 1996
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PE descumpre norma sobre hemodiálise

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Morreram 37 pacientes do IDR O governo de Pernambuco descumpriu pelo menos um dos itens da portaria do Ministério da Saúde que estabelece normas de avaliação das clínicas de hemodiálise.
A portaria, que leva o número 38, datada de 3 de março de 1994, determina que as secretarias de Saúde devem criar uma comissão estadual de nefrologia, encarregada de visitas periódicas às clínicas.
Entre as incumbências da comissão, segundo a portaria, constam a análise das condições físicas da clínica e a "confirmação do tipo de tratamento de água que a clínica utiliza".
À comissão caberia "exercer controle e avaliação" das clínicas.
A portaria contradiz o secretário da Saúde de Pernambuco, Jarbas Barbosa, que disse não haver nenhuma legislação que determine ser a fiscalização das clínicas responsabilidade dos municípios, Estados ou da União.
A Secretaria da Saúde de Pernambuco não criou a comissão. "Havia dificuldade em contratar os especialistas que a portaria determina. Por isso a secretaria preferiu instrumentalizar-se e capacitar seus próprios técnicos para a fiscalização das clínicas", disse ontem o diretor da secretaria, Carl Roichman, presidente da comissão de averiguação das mortes.
Segundo a portaria, os componentes da comissão deveriam "possuir título de especialista". Na opinião de Roichman, "essa comissão parece ter sido idealizada para atender o lobby da Sociedade Brasileira de Nefrologia".
Qualidade da água
A portaria também estabelece que a qualidade da água usada é de responsabilidade das clínicas, que devem analisá-la "no mínimo quatro vezes por ano".
O IDR (Instituto de Doenças Renais) de Caruaru não fazia esta análise, segundo a Secretaria da Saúde de Pernambuco.
Para Roichman, se alguma equipe de fiscalização -fosse a comissão estadual de nefrologia, fossem técnicos da Vigilância Sanitária- tivesse feito uma avaliação no IDR em algum momento do ano passado, o resultado teria sido a interdição da clínica.
No relatório que ele e mais dois especialistas da secretaria prepararam sobre o IDR (após as mortes), constatou-se que o prédio estava "em mau estado de conservação".
Também foi constatado que a água utilizada no tratamento não era submetida a análises, que não havia lavatório de mãos nas salas de diálise e que o "pessoal responsável pela manutenção e operacionalização do sistema de abastecimento da água não estava capacitado para estas atividades".

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