São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Os trapalhões

JUCA KFOURI

A Copa do Brasil é a única contribuição inovadora desta gestão da CBF. Hoje o torneio está aceito e desperta muito mais interesse que os campeonatos estaduais.
A Copa do Brasil, aliás, não é nada mais nada menos que a repetição de uma idéia que há anos faz sucesso na Europa, prova de que quem quiser salvar o futebol brasileiro não precisa nem ser criativo. E benditos sejam os que fizerem o óbvio.
Mas acontecimentos recentes envolvendo a Copa do Brasil demonstram à exaustão como não se faz o óbvio.
O Flamengo vai a Curitiba e volta reclamando, aparentemente com razão, que houve evasão de renda na partida contra o Coritiba. E fica o dito pelo não dito, como se o torneio não fosse organizado pela CBF.
O Palmeiras vai a Belo Horizonte e um de seus atletas é atingido por objetos arremessados pela torcida. Silêncio.
O Corinthians vai a Belém, há invasão de campo, agressão ao trio de arbitragem, evidente evasão de renda, e tudo permanece na mesma.
A viagem alvinegra, por sinal, revelou outras mazelas. O time entrou em campo atrasado porque fora comunicado pela sua federação de que o jogo começaria 15 minutos depois do horário em que, de fato, deveria começar. E a direção corintiana nem tem moral para reclamar, depois de ter esquecido de inscrever dois de seus profissionais para a competição.
O São Paulo, então, bota para jogar um atleta que já tinha participado do torneio em defesa de um outro clube e deve pagar caro por isso.
Quer dizer, em meio a tanta irresponsabilidade, amadorismo e corrupção, fica difícil mesmo achar espaço para comentar o gol contra de Castor, do Remo, o mais espetacular de tantos que já vi em 40 anos de futebol.
Fica difícil até para reclamar da monotonia imposta pelo Palmeiras, que parece incapaz de vencer no Paulistão por um placar diferente de 4, 5, 6.
E fica difícil segurar o desejo de gargalhar diante das trapalhadas de que são cada vez mais capazes os cartolas brasileiros.
Os mesmos que são contra o fim da Lei do Passe porque verão mortas suas galinhas de ouro, corporificadas nas comissões que recebem a cada ídolo vendido.
Os mesmos que fazem estádios com capacidade para 50 mil pessoas ficarem lotados com apenas 30 mil. Os mesmos. Os mesmos de sempre.

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