São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Globalização é bode expiatório moderno

DA SUCURSAL DO RIO

O termo "globalização" se tornou o bode expiatório dos tempos atuais. Ideologizada, a palavra é usada para explicar problemas da sociedade atual: prostituição infantil, aumento da violência e criminalidade entre outros.
A opinião é do sociólogo inglês Roland Robertson, professor da Universidade de Pittsburgh e estudioso da globalização.
A apresentação foi quarta à tarde no Rio. Ele e outros 20 cientistas sociais participam do seminário internacional "Pluralismo Cultural, Identidade e Globalização".
O seminário, que termina hoje, foi promovido pelo "senior board" do Conselho Internacional de Ciências Sociais e pelo Conjunto Universitário Candido Mendes, com apoio da Unesco e coordenado pelo presidente do "senior board", Candido Mendes.
Para o sociólogo inglês, está errada a visão de que a globalização é uma forma de ocidentalização -ou de americanização- e de que a questão é recente.
"Antes da 'invenção' dos Estados Unidos, em outros momentos históricos, outras civilizações contribuíram para a criação do mundo moderno, num processo de globalização", disse.
A professora indiana Tejawisni Niranjana discorda. "Fica claro e óbvio para quem não é do primeiro mundo que o aumento da prostituição tem relação com as fases da globalização", disse.
Robertson citou três situações que mostram a "globalização em ação": a comunicação internacional, a indústria do choque cultural e o que chamou de "glocalização".
No primeiro aspecto, Robertson citou a rede de televisão CNN. "É americanizada e pretensiosa, mas tenta ser local e global", afirmou.
Robertson criticou a existência de especialistas que cobram caro por consultorias para evitar choques culturais. "Promovem a diferença, dizem que sem ajuda não há como sobreviver. São uma das principais bases do nacionalismo contemporâneo", disse.
Segundo ele, a "glocalização" é uma mistura de globalização com características locais ou, "uma simbiose entre o micromarketing e o multiculturalismo".
Ele citou empresários japoneses, que mantêm o mesmo produto em regiões diferentes, acrescentando a eles uma calculada diferença.
O diretor da Escola de Sociologia da Universidade de Estocolmo, Ulf Hannerz, disse que há poucos estudos etnográficos sobre globalização e citou um dos estudos de caso que faz sobre o assunto.
Em entrevistas com profissionais, Hannerz concluiu que, em alguns casos, os jornalistas fazem um bom trabalho etnográfico. "Jornalistas me disseram que as histórias são as mesmas pelo mundo. Parece um tipo perverso de globalização, que minimiza as diferenças", disse.

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