São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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"Vilonista-prodígio" não convence

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A temporada de 1996 dos Patronos do Teatro Municipal foi inaugurada por uma orquestra de jovens -a Orquestra Experimental de Repertório-, com uma solista americana de origem coreana.
Tricia Park, de apenas 18 anos, foi apresentada como menina-prodígio e recebeu críticas elogiosas até do "New York Times".
Nem é preciso dizer que ela interpretou o arquiconhecido "Concerto nº 2 em mi menor op. 64", de Meldelssohn, peça básica do repertório violinístico. Ela preferiu revelar ao público todas as suas virtudes e defeitos ao escolher uma obra tão conhecida.
Desde as primeiras notas, conseguiu extrair de seu instrumento uma sonoridade belíssima, doce e aveludada, impondo-se sozinha sobre a orquestra. Mas falta-lhe ainda o essencial e mais difícil: o fraseado.
Ela ainda não é capaz de criar uma linha melódica que capture o ouvinte numa torrente de notas, que deixem de ser apenas bem tocadas, mas levem-nos a atravessar florestas indevassáveis de emoção. Aí, a essência da música.
Mas chegar a transformar música em magia e hipnotismo é tarefa de um grande virtuose.
Falta-lhe, porém, outra coisa, bem mais simples: ela não conseguiu nem extrair um "cantabile" no "Andante". Isso significa que, apesar de todas as suas qualidades, não tem noção do fraseado.
Isso ficou comprovado no virtuosístico bis. Tricia se sai muito bem em virtuosismos paganinianos, mas parece seguir a escola oriental de interpretação: excessiva ênfase na técnica digital, mas incapacidade de fazer soar um "cantabile".
Fica só um pouco difícil de entender o fato de se promover tanto uma jovem americana principiante, enquanto muitos talentos nacionais não têm chance.

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