São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Peres tenta mostrar força e garantir sua eleição

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

O governo israelense esperou tanto tempo para iniciar ataques aéreos contra o Hizbollah porque a escalada da guerra no Líbano é prejudicial para Israel. Mas, ontem de manhã, ele não pôde mais esperar. Com a aproximação da eleição prevista para 29 de maio, o primeiro-ministro Shimon Peres não podia mais correr o risco de passar uma imagem de fraqueza. Seu slogan é: "Israel é forte com Peres".
O Exército israelense propôs ao governo três opções: ataques aéreos em massa, um misto de ataques aéreos e terrestres ou um ataque a alvos em Beirute. Peres parece haver escolhido a primeira e a terceira. Com o ataque, ele espera convencer o eleitorado de que o Hizbollah será punido.
O perigo para o governo, nos próximos dias, é que o Hizbollah irá retaliar tanto contra tropas israelenses na zona de ocupação no norte do Líbano quanto com ataques de foguetes Katiucha contra o norte de Israel.
Nos últimos meses, os guerrilheiros demonstraram eficiência quando se tratou de se esquivar de patrulhas israelenses e montar emboscadas complicadas. A explicação que Israel aventa para esse fato é que o Hizbollah criou unidades especiais que contam com bons serviços de informação e alto nível de treinamento.
Tudo isso forma um contraste marcante com a incompetência militar da OLP na época em que dominava o sul do Líbano, antes da invasão de 1982. Embora seus efetivos chegassem a cerca de 6.000 -e os do Hizbollah podem ser de apenas centenas-, a OLP não minou pontes e estradas. O Hizbollah provavelmente irá lutar acirradamente contra um ataque por terra e, nas palavras de um observador israelense, "Peres não pode arcar com mais 20 funerais militares".
Israel poderia anunciar que o Hizbollah tem de abandonar certos povoados até determinada data, senão Israel se sentirá livre para disparar contra eles.
Se o fizer, isso significará o fim do entendimento mediado pelos Estados Unidos em 1993, pelo qual Israel e o Hizbollah se comprometem a não alvejar civis, exceto como retaliação.
A ação significaria ampliar a crise no Líbano, o que o governo israelense não quer. Israel esperava que a questão do Líbano não se tornasse crítica até as eleições. Peres já está tendo trabalho para acalmar a ansiedade pública em relação aos quatro atentados suicidas que mataram 62 pessoas em fevereiro e março.
Um editorial do jornal "Haaretz" disse que o norte de Israel já se aproxima do ponto de ruptura, quando "a população vai se deslocar ao sul e, na política, os eleitores vão se deslocar à direita".
Os ataques de ontem foram uma tentativa de realizar três objetivos: mostrar aos israelenses que o governo está tomando iniciativas decididas, enviar um aviso ao Hizbollah e não aumentar o nível dos combates. A retaliação do Hizbollah vai decidir se Peres conseguiu.

Tradução de Clara Allain

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