São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996
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Escolas criticam distribuição de leite

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha do prefeito Paulo Maluf de distribuição gratuita de leite em pó nas escolas municipais de São Paulo está gerando problemas que vão da segregação de alunos carentes à sobrecarga de funcionários e professores.
O programa consiste em dar uma lata de 2 kg de leite por mês a todos os alunos que tenham 90% de frequência nas escolas e creches.
"É um reconhecimento da prefeitura à criança que frequenta as aulas", diz Maluf, que ontem foi a duas escolas distribuir, ele mesmo, o leite às crianças (leia texto abaixo). Cerca de 1 milhão de alunos são contemplados por mês.
"As mães gostam muito", afirma o secretário da Educação, Sólon Borges dos Reis, 78. Segundo ele, o programa é do prefeito e não de sua secretaria.
A Folha apurou que vários professores, em acordo com a direção da escola, estão falseando a lista de presença usada para distribuição do leite para que todos os estudantes recebam o produto.
Aluno carente falta mais
"Os alunos que mais faltam são exatamente os que mais precisam do leite. Eles ficam mais doentes, às vezes têm que tomar conta do irmão ou são os pais que deixam de levá-los para a escola", afirma Giulia Pierro, 47, coordenadora do Fórum Municipal de Educação.
Segundo Maluf, a frequência é necessária. "Se a escola existe, é para a criança frequentar."
Nas últimas duas semanas, a reportagem da Folha recebeu ligações telefônicas de professores de quatro escolas reclamando do trabalho que a campanha provoca.
Para distribuir o leite, além de ter de formar listas dos alunos com frequência superior a 90%, a escola também deve anotar nome, endereço e RG de todos os pais. "Já estamos com funcionários a menos", diz uma diretora, que teme revelar o nome e sofrer punições.
"Vincular a distribuição de leite à presença do aluno é declarar a falência do ensino municipal", diz o presidente do sindicato dos professores da rede (Sinpeem), Claudio Gomes Fonseca, 45.
"O professor faz o apontamento da frequência não com uma finalidade pedagógica, mas com a finalidade de premiar ou de punir."

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