São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996
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O lobby do Lobo

JUCA KFOURI

O senhor Mario Jorge Lobo Zagallo devia se candidatar à Presidência do Congresso Nacional. A determinação com que repele o que chama de lobby a favor de Romário é comovente, além de ser uma bela esperteza.
Zagallo sabe que lobby só faz quem tem interesses materiais em determinado objetivo. Jornalistas, os decentes, não fazem lobby. Têm opiniões, desejos, mas não têm interesse pessoal em ver fulano ou beltrano na seleção, a não ser o de que o Brasil vença, com bom futebol, muitos gols etc.
Com Romário é assim. O melhor jogador do mundo em 1994 está voltando a sê-lo em 1996 e ninguém pode se dar ao luxo de deixá-lo à margem dos Jogos Olímpicos se ele mantiver a boa fase.
Como Zagallo não nasceu ontem, nada indica que não saiba o que está fazendo. Convocou Bebeto, um belo jogador, mas que jamais foi sombra para Romário em forma, em mau momento na Espanha, para motivá-lo. E deixou Romário tendo de matar um leão por jogo até não haver mais dúvidas de sua recuperação, um processo que pode ir até o dia 24 de junho quando, então, Zagallo fará a convocação definitiva para Atlanta.
Aí, com o Baixinho em ponto de bala, chama o artilheiro do tetra e aumenta consideravelmente a chance da medalha de ouro.
Claro que é confortador saber que nosso vitorioso Zagallo não aceita pressões, como alardeia. Pelo menos é uma demonstração de auto-estima que sempre faz bem ao ego. Até porque um técnico de seleção brasileira sabe melhor que ninguém que há certas pressões irresistíveis e absolutamente saudáveis. Não as de lobbies, mas as da opinião pública.
Ou nosso bom Zagallo não teve o mérito de se submeter a elas em 1970, quando escalou Tostão e Rivellino? Ou a dupla Parreira/Zagallo não cedeu ao chamar Romário para liquidar os uruguaios na última das partidas pelas eliminatórias da Copa de 1994?
Todos sabemos que sim, o que não é motivo de vergonha alguma, ao contrário, é prova de sensibilidade.
Tomara que Zagallo ache tempo para conversar com Luís Eduardo Magalhães sobre como resistir aos lobbies. E que, no dia 24 de junho, convoque Romário para tornar menos árdua a missão em Atlanta.
É claro, desde que o Baixinho continue a fazer aquilo que sabe melhor que ninguém: gols, muitos gols.

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