São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996
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O diabo não é tão feio

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O governo Fernando Henrique Cardoso canta um samba de uma nota só: ou as reformas à Constituição de 1988 ou o caos.
Menos mal que uma voz autorizada destoa um pouco dessa canção, ainda que apontando inúmeros inconvenientes da Carta em vigor.
Vejamos seus argumentos:
1 - "Ao contrário do que se pensa, na parte que disciplina os Orçamentos nacionais, estaduais e municipais, a Constituição abriu caminho para uma grande austeridade e transparência nas contas públicas."
2 - "É equivocada a idéia de que a atual crise econômica de curto prazo deve-se à Constituição. A inflação no Brasil é explosiva desde 1980, quando atingiu os três dígitos anuais. Os investimentos estrangeiros retraíram-se desde 1983. Os capitais domésticos passaram a fugir desde meados da década. A estabilidade de funcionários públicos vinha da Constituição anterior. O colapso do Estado ocorreu antes da nova Carta."
"Ela não resolveu esses problemas? Não. A solução depende de uma lucidez e de um entendimento político que não se conseguiu nem no governo Sarney nem no governo Collor."
3 - "A maior parte das alterações necessárias à Constituição de 1988 não produziriam efeitos a curto prazo. Ou seja, do mesmo modo que não causaram a crise a curto prazo, não as eliminariam a curto prazo."
"O curto prazo depende de outras coisas: do não-entupimento da agenda política nacional e de um entendimento político em torno das medidas de curto prazo."
O autor dos trechos entre aspas chama-se José Serra e era deputado federal à época em que escreveu (Folha de 10/9/1991).
Hoje, como se sabe, é ministro do Planejamento do governo que jura que ou são as reformas ou será o caos. E não consta que seja do clube do "esqueçam o que eu escrevi".

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