São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996 |
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Partidos no poder atraem parlamentares
LUCIO VAZ
O mapa do troca-troca mostra que os parlamentares trocam de partido ao sabor dos interesses regionais, fisiológicos e corporativos. A atração pelo poder é mais forte do que a doutrina ou o programa dos partidos. Este quadro tem no PMDB, o maior partido do Congresso, um exemplo perfeito. O partido rachou na votação da reforma da Previdência Social e na criação da CPI dos Bancos. Depois, não conseguiu quórum na sua Convenção Nacional Extraordinária. O PMDB teve 40 dissidências na primeira votação da reforma da Previdência. Parecia até que havia uma divergência programática com o governo FHC. Na votação do projeto do líder do PMDB na Câmara, Michel Temer (SP), após uma semana de negociações de cargos e verbas federais, o partido teve apenas 15 dissidências. A convicção programática cedeu lugar ao fisiologismo. A fragmentação do PMDB é admitida pelos seus líderes, que têm dificuldades para definir o partido. Divisão "O PMDB não está dividido. O PMDB tem divisões. Não é exatamente um partido. É uma frente de lideranças", afirma o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP). Sarney diz que essa diversidade "se reflete nas votações. O partido debate muito, discute, tem democracia interna". Na convenção do PMDB, no dia 24 do mês passado, porém, o que faltou foi debate. Os nove governadores do partido não apareceram e comandaram o esvaziamento da convenção. O presidente nacional, deputado Paes de Andrade, ficou falando sozinho. Temer afirma que o seu partido é "curioso": "É um partido multifacetado. Sempre teve divergências internas, mas sempre sobreviveu. Tem hoje nove governadores e metade dos prefeitos do país". O troca-troca partidário mostra a atração que o poder exerce sobre os parlamentares. O PSDB, que forma o núcleo do governo, atraiu 32 deputados nesta legislatura, embora tenha perdido outros 10. A última adesão mostra que o maior atrativo dos tucanos não é a sua doutrina social democrata. Aderiu o deputado Nelson Marchezan (RS), ex-líder do presidente João Batista Figueiredo. PFL O PFL, que também está no centro do poder, conseguiu 24 adesões e perdeu 9 deputados. Quem integra um desses dois partidos tem mais cacife para nomear apadrinhados e liberar verbas para Estados e municípios. As verbas são importantes principalmente em ano eleitoral. A bancada de Rondônia, por exemplo, mudou o voto na reforma da Previdência em troca da restauração da BR-364, uma obra avaliada em R$ 30 milhões. Com muitas dissidências e sem participar das decisões de governo, o PMDB conseguiu quatro adesões, mas perdeu 14 deputados. Perdeu a condição de maior partido na Câmara para o PFL. Na oposição, mantiveram-se intactos os partidos ideologicamente definidos: o PT (49 deputados), o PC do B (10 deputados) e o PPS (2 deputados). Sem a mesma definição, o PDT perdeu 10 deputados e não conseguiu uma adesão sequer. Campeões de troca A andança dos políticos é mais frequente nos pequenos Estados, onde atuam muitos candidatos "pára-quedistas" (mudam de Estado para garantir uma eleição). No Acre, 6 dos 8 deputados federais já trocaram de partido. Saídos do PMDB, PPB, PSDB e PSD, todos eles foram parar no PFL. Também em Roraima, 6 dos 8 deputados mudaram de partido. Em Tocantins, 5 dos 8 deputados trocaram de legenda. Em Rondônia, foram 3 mudanças. Das 92 trocas, 50 aconteceram nas regiões Norte e Nordeste, que têm 40% das cadeiras da Câmara. Texto Anterior: Arraes defende prisão para os 2 diretores de clínica em Caruaru Próximo Texto: Congresso tenta votar reforma eleitoral há 5 anos Índice |
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