São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Médico teme que qualidade do serviço piore

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionando em mais de 60 unidades de saúde da cidade, o PAS (Plano de Atendimento à Saúde) é alvo de críticas de especialistas em saúde e representantes de entidades médicas.
A principal crítica é que o plano não prevê mecanismos internos de controle. Eles afirmam que o risco da queda de qualidade no atendimento é muito grande.
Como o plano prevê que os médicos ganhem por horas trabalhadas, a vontade de trabalhar muitas horas -para aumentar o salário- poderia comprometer a qualidade do serviço prestado.
A prefeitura contesta as críticas. Segundo Luiz Fortunato Moreira, diretor do "módulo centro", existe um conselho gestor responsável por fiscalizar as cooperativas.
A reportagem da Folha ouviu seis especialistas e membros de entidades médicas. São eles: Raul Cutait, ex-secretário municipal e professor associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP; Vicente Amato Neto, 68, chefe do Departamento de Doenças Parasitárias e Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP; José Aristodemo Pinnotti, 60, professor do Departamento de Ginecologia da USP e ex-secretário estadual; Silvano Raia, 65, professor de cirurgia experimental da Faculdade de Medicina da USP e ex-secretário municipal; Eleuses Paiva, 42, presidente da APM (Associação Paulista de Medicina); e Célio Levyman, conselheiro do CRM (Conselho Regional de Medicina).
Todos, com exceção de Silvano Raia, criticaram o PAS. "Quero que classifiquem minha posição como de apoio e de observação", disse Raia.
Doenças graves
Outra crítica corrente entre os entrevistados é o fato de, segundo eles, o plano não poder pagar tratamento de doenças graves, como Aids ou câncer.
"O PAS tem verbas limitadas, como vai poder atender doenças graves, cujos custos são imprevisíveis e altos?", diz o conselheiro do CRM Célio Levyman.
O secretário municipal da Saúde, Roberto Paulo Richter, no entanto, afirmou na semana passada que os aidéticos seriam atendidos nos hospitais do PAS.
O conflito entre prefeitura e médicos foi lembrado pelos especialistas. "A implantação do plano foi um pouco truculenta. Não houve diálogo", diz Cutait.
A suposta falta de uma política de saúde também é criticada. Segundo Vicente Amato, falta "uma visão global" ao plano. "O PAS não define estratégias de saúde pública", afirma.
'Privatização'
Outro "perigo" seria o risco da "privatização". Eles dizem que o repasse do dinheiro da prefeitura para uma cooperativa de médicos seria uma forma de privatização. "O PAS é um plano de saúde com dinheiro público", diz Paiva.
A Prefeitura de São Paulo diz que o PAS não vai dar lucro. Segundo ela, não é privatização, é parceria.
(LM)

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