São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Ex-líder consegue um emprego

LALO DE ALMEIDA; ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Valquíria Assis Mariano, 18, é a única entre os 17 adolescentes fotografados em 1990 e localizados pela Folha que vive hoje afastada das ruas. Ela trabalha como empregada doméstica em Caieiras.
Falante e desinibida, Valquíria sempre circulou por todos os grupos, tornando-se uma espécie de líder entre os menores.
Casada com Nildo, 30, ela diz que ainda sente saudades dos amigos da Sé. "Brigo muito com meu marido por causa disso. Ele tem ciúmes dos meus amigos, mas eu não troco eles por nada", afirma.
Valquíria completou 18 anos na Febem, de onde saiu em setembro do ano passado, após um ano de reclusão.
Valquíria conheceu a praça da Sé aos 7 anos, trazida pela irmã Sueli, 6 anos mais velha. De todos os seus irmãos, apenas a mais jovem, R., 14, não viveu na rua.
Sua mãe, Jocelina Assis Mariano, 49, teve 11 filhos, dos quais apenas cinco ainda estão vivos. A filha mais nova, Elaine, que teria hoje 9 anos, desapareceu na praça da Sé em 1990.
O pai de Valquíria, pintor, saiu de casa quando ela tinha 6 meses. Segundo Jocelina, ele teve problemas de estresse e "ficou com a cabeça ruim".
Jocelina conta que muitas vezes chegou a dormir na rua com os filhos, que não queriam voltar para casa. "Sentia uma dor no peito cada vez que eles saíam de casa", diz.
Numa dessas suas "estadias" na praça da Sé, a filha Elaine, então com 3 anos, desapareceu.
Jocelina diz que Valquíria se sentiu culpada, pensando que o sumiço da irmã tinha sido uma represália a uma entrevista que tinha dado a uma televisão, denunciando a corrupção policial e a ameaça dos traficantes aos garotos de rua.
Jocelina mora em Morro Doce (zona norte) com os filhos Ricardo, 19, e Carlos Alberto, 29, o "Índio". Ricardo está há quase dois anos afastado da rua, depois que se tornou evangélico em sua última passagem pela Febem.
Sem se descuidar da Bíblia que sempre carrega, apesar de não saber ler, Ricardo diz que entende o motivo pelo qual as crianças vivem na rua. "É como um ímã que atrai as pessoas", diz.
Carlos Alberto, que vive de pequenos furtos na praça da Sé, é pai das filhas de outra adolescente fotografada em 1990. Cleide André Pedroso, que morreu em julho do ano passado (leia texto na pág. 2).
(LALO DE ALMEIDA E ROGERIO WASSERMANN)

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