São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Violência em casa é comum

GILBERTO DIMENSTEIN; PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Num exercício de expressão, pediram aos alunos de uma classe da escola 194, do Harlem, que desenhassem algo que simbolizasse suas vidas. Um dos desenhos, feito por um menino de 9 anos, mostrava um homem negro apontando uma arma para uma mulher e duas crianças.
O menino foi convidado a explicar o que significava aquela cena. O garoto, sem hesitar, disse que o homem armado era seu pai.
O depoimento surpreendeu a todos, mas o fato é apenas o extremo de um fenômeno comum no bairro: a violência doméstica.
A menina Elisa Izquierdo foi uma das vítimas. Seu assassinato, em novembro de 1995, chocou a cidade. Sua mãe, viciada em crack, espancou a garota até a morte, por achar que ela estava possuída pelo demônio.
'Força de paz'
Lachelle Lett, 22, trabalha voluntariamente com crianças e adolescentes que enfrentam esse e outros problemas, como a dependência de drogas.
Ela é uma "peacemaker"(literalmente, construtora da paz), nome dado aos integrantes do grupo que usa a aproximação individual e o diálogo para desestimular a violência nos bairros pobres.
Eles são jovens e atuam na própria comunidade onde cresceram. Para Lachelle, isso facilita as coisas, já que há uma grande identificação entre quem oferece e quem procura ajuda.
Participando das atividades extracurriculares da Contee Cullen Beacon School, Lachelle encontrou até crianças pequenas que sofriam com a dependência de crack.
"Vi três casos assim. Você percebe o problema pelo próprio comportamento da criança", diz. Segundo ela, o contato das crianças com a droga aconteceu dentro da casa.
Nas ruas, o trabalho do "peacemaker" é se aproximar dos adolescentes que, sem outras opções, acabam se envolvendo em gangues, brigas e no tráfico de drogas. "Queremos mostrar que há outro caminho", diz.
(GD e PD)

Texto Anterior: Escola do Harlem 'compete' com traficantes
Próximo Texto: Número de milícias quadruplica nos EUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.