São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Candidatos a figurantes já são 550

ARMANDO ANTENORE
DO ENVIADO ESPECIAL

As gravações de "O Rei do Gado" mal começaram e centenas de anônimos já estão de olho nos tais 15 minutos de fama.
Em menos de um mês, 550 pessoas se inscreveram para participar da novela como figurantes. Todas moram no interior paulista -Amparo, Campinas, Jaguariúna, Americana, Serra Negra. E têm profissões das mais diversas. Há faxineiros, bancários, professores, empresários e advogados.
O número de inscritos pode parecer astronômico, mas é mixaria perto de Hollywood. Só em uma sequência do filme "Coração Valente", por exemplo, o diretor Mel Gibson convocou 1.500 figurantes. Sangrentas, as cenas recriam a batalha de Stirling, a mais marcante do longa-metragem que acaba de levar cinco prêmios na 68ª cerimônia do Oscar.
Em "O Rei do Gado", a Globo deverá usar um terço da multidão que Gibson mobilizou. A emissora dispôs, por enquanto, de apenas 70 figurantes.
"Estou certo de que muitos dos inscritos trabalhariam de graça", diz Alexandre Silva, 28, dono do Espaço Cultural Arte & Cia. Ilimitada. "Se bobear, tem gente que até pagaria para fazer uma ponta com os galãs da Globo."
O Espaço Cultural, em Amparo, é a agência de modelos que cadastra os candidatos à figuração. "Iniciei a garimpagem no dia 16 de março, um sábado. A Globo me pediu 15 pessoas para as gravações de domingo", conta Silva. "Percorri três rádios da região e fiz uma convocação-relâmpago. Na manhã do dia seguinte, havia 110 interessados."
Surpreso diante da demanda, Silva resolveu organizar um "banco de figurantes" com foto, telefone e endereço dos inscritos.
Literalmente, os interessados não pagam para trabalhar. Na prática, porém, é como se pagassem. Cada figurante ganha entre R$ 15,00 e R$ 20,00 por dia, mais o almoço. Só que, ao se inscrever no Espaço Cultural, desembolsam R$ 5,00 -"para cobrir gastos operacionais", justifica Silva.
As gravações começam às 7h e se estendem até as 19h. Os figurantes costumam ficar todo o tempo à disposição da Globo e raramente abrem a boca em cena.
"Claro que não me candidatei por causa do dinheiro. Quero é estar lá", explica o supervisor de expedição Edson José Seleguin, 39, desempregado há oito meses. Na primeira fase da novela, ele viverá um policial.
Também na primeira fase, Ulysses Vieira, 70, funcionário público aposentado, interpretará um fazendeiro. "Já gravei três cenas. Minha função é ouvir o Antonio Fagundes falar. Ouço, mas não entendo bulhufas, porque ninguém conta a história da novela para a gente."

Texto Anterior: Nova saga da Globo quer retratar moderno empresário do campo
Próximo Texto: Elenco tenta trocar "italianado" pelo italiano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.