São Paulo, segunda-feira, 15 de abril de 1996
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Bancos alongam prazos atrás de lucros

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os operadores do mercado financeiro olhavam para o pé e, agora, olham para frente.
A frase, de efeito, é do vice-presidente do Citibank, Cássio Casseb. Espremida, ela significa que o mercado já mostra sinais claros de um processo de alongamento.
O próprio comportamento do mercado futuro de juros (veja o quadro) serve como indicador.
É que, segundo Casseb, "no curto prazo existe um imenso consenso sobre o comportamento de juros e câmbio, de tal forma que não há o que fazer (para ganhar dinheiro) no prazo de até 90 dias". E não há o que fazer porque não há volatilidade -o que faz existir tanto diferenças de preço como possibilidade de lucro.
O consenso é fruto da forma de atuação do BC (Banco Central).
Câmbio e juros iniciaram o Real, diz Edson Simões, diretor-adjunto do Banco de Boston, "nos extremos". O juro era de 7% ao mês e o câmbio chegou a bateu em R$ 0,82.
Agora, as diferenças estão diminuindo (com juros em queda e câmbio em alta), ou, como prefere Simões, 'às âncoras cambial e monetária estão se afrouxando".
Esse afrouxamento está se dando com "uma estabilidade de trajetória dos juros e do câmbio", como afirma Oswaldo de Assis, vice-presidente do Banco Itamarati. Assim, se no passado, as maiores oscilações ocorriam nos preços (e câmbio e juros são preços), agora, elas "estão ocorrendo no lado real da economia", especialmente no nível de atividade e em seu indicador mais visível: a balança comercial (exportações e importações).
O detalhe é que, como lembra Assis, "a balança não se deteriora em 48 horas. Os movimentos são necessariamente mais longos". As circunstâncias, portanto, empurram o mercado para o alongamento, embora falte experiência. Por exemplo: quando falta dinheiro no over, sobem os juros no over e no mercado futuro.
"Liquidez só afeta os juros de curto prazo. No longo, as taxas são afetadas pelas expectativas", afirma Rafael Goldenberg, gerente de Tesouraria do BBA Creditanstalt, que diz que não tem do que se queixar, quem tem apostado na queda.
Mas como todos no mercado apostam na queda, os negócios só se viabilizam porque o governo toma dinheiro emprestado. Ou, como diz Simões, "só dá para alongar a favor do governo."
Tanto que, no mercado, é fácil encontrar quem defenda a necessidade de o governo emitir papéis ainda mais longos.
Simões lembra, no entanto, que o afrouxamento das âncoras cambial e monetária deveria ser acompanhado do fortalecimento da âncora fiscal, o que não está ocorrendo. "Eu não consigo ver, por exemplo, uma inflação em 1997 mais baixa que a de 1996."

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