São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 1996
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Filme tenta explorar a banalização da violência

FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Fargo" pouco faz para acrescentar novas perspectivas a um tema que, apesar de ainda estar na moda, se encontra cada vez mais perto do esgotamento: a exploração da violência em conjunção com a banalização do dia-a-dia.
Estado pouco conhecido até para os americanos, Minnesota ficou bastante famoso no Brasil depois do sucesso da série "Barrados no Baile", o enlatado global dos almofadinhas adolescentes da Califórnia. Os Walsh, a família principal da série, são de lá.
Em "Barrados", o pacato Minnesota é associado ao sentimento dúbio da pureza e tolice interioranas. Em outras palavras, o estereótipo do caipira americano. Típico pedaço de terra incapaz de produzir qualquer excitação.
No inconsciente coletivo dos "nativos" Coen, que nasceram e cresceram no subúrbio e conheceram o submundo do lugar, Minnesota, mesmo contendo esta idiotice interiorana, não é definitivamente tão pacata assim.
Pelo filme se pode concluir que a vida no Estado tem potencial para ser tão insegura quanto as ruas mais violentas da Los Angeles das fitas de gangue. Algo pouquíssimo recomendável para os mauricinhos de Beverly Hills.
"A nossa maior ambição é apenas a de contar da melhor maneira possível uma história, não é preciso haver uma proposta para isso", afirma Joel. Diversão? "Oh, eu espero que sim", ele responde.
No total, são 98 minutos de "diversão" que exigiram boa dose de imaginação e US$ 6 milhões. Considerando a reação da platéia londrina, a fita deve arrancar risadas nervosas dos espectadores.
Baseada em eventos reais que aconteceram em 1987, a fita conta a história de um vendedor de carros (William H. Macy) atolado em dívidas que resolve contratar os serviços de uma dupla de bandidos para sequestrar sua mulher. A intenção deliberada é arrancar dinheiro do sogro rico e patrão explorador (Harvey Presnell).
"Nós não nos preocupamos em ser obsessivamente ligados aos acontecimentos. Pesquisa é para babacas", atira Joel.
Entre os personagens se destaca a policial Marge Gunderson, interpretada pela competente Frances McDormand, atriz norte-americana pouco conhecida do grande público e mulher do diretor.
A xerife passa as manhãs reclamando de "morning sickness", que pode ser traduzido como mal-estar matinal, ao mesmo tempo em que faz perícias em cadáveres executados a sangue frio.
O que soa à primeira vista uma reação orgânica da policial à onda de crimes na cidade se revela mais adiante não estar necessariamente ligado ao barbarismo das cenas. Na verdade, é provável que tenha mais a ver com seu estado físico.
Mas, se ainda não for isso, é possível atribuir a culpa ao gorduroso café da manhã reforçado com bacon e ovos, a que a xerife é submetida todos os dias antes de pegar no batente. O café é carinhosamente preparado pelo prendado e sempre dedicado marido, que fica em casa enquanto a mulher vai à luta.

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