São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996
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Pará é recordista em crimes no campo

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

As mortes ocorridas anteontem no sul do Pará consolidam o Estado na condição de recordista brasileiro em assassinatos no campo, segundo relatório da CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à ala progressista da Igreja Católica.
O Pará contabiliza ainda as maiores chacinas do campo na história do país em número de mortos num único confronto.
Em 29 dezembro de 1987, 30 pessoas foram mortas, segundo a CPT, em Serra Pelada, no município de Parauapebas. O relatório da CPT diz ainda que 133 pessoas são consideradas desaparecidas em consequência do conflito.
O conflito em Serra Pelada aconteceu depois que o então governador do Pará Hélio Gueiros determinou que 360 policiais militares cercassem os dois lados da ponte sobre o rio Tocantins, bloqueada por 1.500 garimpeiros.
Depois de cercar os garimpeiros, a polícia começou a disparar.
A chacina de anteontem foi a 12ª ocorrida no Pará, segundo a CPT, que catalogou 32 chacinas no país de 1979 a agosto do ano passado.
A CPT considera chacina o assassinato de três ou mais pessoas que estejam no mesmo local e hora.
Morreram 197 pessoas nas 32 chacinas no país anteriores à de anteontem. Só no Pará, foram 68 -número que sobe para 87 com o conflito de Eldorado.
Poder paralelo
Pelo balanço feito pela CPT, o Estado que mais se aproxima do Pará em assassinatos no campo é o Mato Grosso. De 79 a agosto de 95, foram registradas no Estado seis chacinas, com 24 mortos.
O secretário-executivo da CPT, Írio Luiz Conti, afirmou à Agência Folha, ao analisar os motivos do conflito de anteontem, que, além da origem histórica de concentração de terras, o governo do Pará enfrenta problemas para comandar a Polícia Militar.
"A PM do Pará é um poder paralelo no Estado que está sempre contra os interesses dos trabalhadores rurais", afirmou Conti.
Em nota divulgada ontem, a CPT "repudia o massacre de Eldorado de Carajás" e responsabiliza o comando da PM, o governador Almir Gabriel (PSDB) e o governo federal pelas mortes.
"A CPT entende que o governo federal também é responsável pelo massacre, porque criou expectativas não realizadas em relação à reforma agrária", diz a nota.
Ainda na nota o ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, é acusado de ter "sucateado" o Incra (Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária).

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