São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1996
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Teste descarta toxina em vacinação

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) descartou ontem a hipótese de que a vacina contra meningite tipo C usada em Campinas (99 km de SP) estivesse contaminada por toxinas que, quando presentes, causam febre, dor e náuseas.
Para o diretor do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, da Fiocruz, Felix Rosenberg, o resultado dos primeiros testes em lotes da vacina indica que eles tinham boa qualidade.
Segundo ele, novos testes serão feitos -para saber, por exemplo, se as vacinas estavam bem esterilizadas. Rosenberg afirmou acreditar que esses testes reafirmarão a qualidade dos lotes das vacinas.
Até terça, a Fiocruz deve dar o resultado dos testes para detectar se houve concentração anormal de polissacarídeos e proteínas nos lotes da vacina -que poderiam causar dores de cabeça e alergias.
Os testes estão sendo feitos em amostras de vacina contra meningite meningocócica C e do diluente utilizado em Campinas e das amostras-memória da mesma vacina armazenadas na fundação.
Rosenberg disse existirem hipóteses para justificar o problema ocorrido em Campinas e Hortolândia. Das 34 mil pessoas vacinadas, cerca de 7.500 tiveram algum tipo de reação à vacina, segundo dados das duas prefeituras.
Ele afirmou que pode ter ocorrido "uma coincidência de fatores", como a concentração da vacinação em quatro dias e alguns casos de aplicação inadequada da vacina de forma intramuscular -e não subcutânea, como é recomendado. Segundo Elizabeth Deberaldini, 43, diretora da Vigilância Epidemiológica da Divisão Regional de Saúde de Campinas, "a vacina pode ser aplicada das duas formas, sem que haja problemas". "Mas aplicamos na forma subcutânea."
Devido a esses fatores, Rosenberg acha viável que casos mais graves de reação possam ter se misturado às reclamações em relação às reações normais, provocando um pânico generalizado.
Segundo ele, mesmo com lotes de boa qualidade, já houve altas taxas de reações na história da vacinação com o mesma tecnologia de produção da vacina utilizada em Campinas e Hortolândia.
O diretor do Instituto Bio-Manguinhos (que pertence à Fiocruz), João Quental, voltou a garantir a qualidade da vacina. Para ele, o controle de qualidade foi rigoroso. Quental citou o exemplo da perda de 40% da produção de vacinas do Bio-Manguinhos em 95.
O diretor disse que o alto índice de produção inadequada foi detectado. Quental afirmou que essa produção inadequada se concentrou em lotes de vacinas contra a febre amarela e o sarampo. "No caso da meningite, 100% deles foram aprovados."
Hoje a secretária da Saúde de Campinas, Carmen Lavras, vai se reunir às 8h30 na Câmara com os membros da CEI (Comissão Especial de Inquérito) para discutir as causas das reações provocadas pela vacinação.

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