São Paulo, sábado, 20 de abril de 1996
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Jornalista especula sobre morte de Cobain

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Quem matou Kurt Cobain? Há quem não acredite no suicídio e diz que Courtney Love é a responsável por uma conspiração para assassinar o líder do Nirvana.
Steve Bloom, 40, editor de música da revista "High Times", de Nova York, juntou num artigo os três principais homens que apostam nessa teoria.
O primeiro é Tom Grant, um investigador particular contratado por Love uma semana antes do corpo de Cobain ser encontrado em Seattle, há dois anos.
O segundo é El Duce, o líder da banda Mentors, de porno-metal. Ele garante ter sido procurado por Love, que teria oferecido 50 mil dólares para se livrar de Cobain.
O último é o pai de Love, Hank Harrison, afirmando que a filha tem múltipla personalidade, "um lado negro extremamente violento" e não dúvida de seu envolvimento no assassinato.
Bloom começou a investigar a morte de Cobain em dezembro de 94, quando recebeu um fax anônimo na redação da "High Times".
O fax, assinado por "Amigos que Entendem Kurt", dizia que uma "Dream Machine" (Máquina de Sonhos) era a responsável pelo suicídio de Cobain.
A engenhoca, inventada nos anos 60 pelo escritor William Burroghs, mistura cilindros e luzes que giram sem parar, provocando um efeito psicodélico. "É como uma droga que você não precisa tomar", explica Bloom.
Segundo ele, o fax dizia que Cobain usava a máquina 72 horas seguidas e isso teria provocado seu suicídio. "Achei a história absolutamente bizarra, mas fui investigar", conta.
Para o jornalista, a teoria da "Máquina dos Sonhos" é um engano. "É como se alguém estivesse interessado em desviar a atenção das denúncias de Grant", afirma.
Três dias antes, o investigador particular tinha ido a uma emissora de rádio dos EUA dizendo ter evidências de que Cobain não poderia ter atirado contra si mesmo.
No artigo de Bloom, Grant afirma que Cobain tinha no sistema sanguíneo três doses de heroína na hora de sua morte. Estaria inconsciente e não poderia ter guardado a agulha, segurado a arma e atirado.
"Grant teve acesso a muita informação, já que continuou as investigações, pago por Love, por mais sete meses após o suposto suicídio", diz Bloom. O jornalista diz que Love continuou pagando o investigador para controlá-lo.
Semanas após ter entrevistado Grant pela primeira vez, Bloom ouviu a história de El Duce por uma agência de notícias. "Apesar de não ser válido no tribunal, El Duce passou por um detector de mentiras", afirma Bloom.
O jornalista falou ainda com uma testemunha da conversa entre Duce e Love, um balconista de uma loja de discos. Ele diz ter recebido um telefone de Love procurando por El Duce, que não estava no local. "Dez dias depois encontraram o corpo de Kurt. Talvez ela tenha encontrado outra pessoa para fazer o serviço", afirma Duce.
Para Bloom, essas pessoas pouco têm a ganhar apostando na idéia de assassinato. "Qualquer um pode lucrar com a história, basta fazer um livro sobre o Nirvana."
O comportamento de Love em público, na opinião de Bloom, é o principal motivo para tantas perguntas sobre seu envolvimento com a morte do marido.
Famosa por arranjar confusão e estar envolvida com heroína, ela já foi descrita pelo pai como tendo comportamento psicótico. O relacionamento dos dois é problemático. Harrison não conhece a neta.
Todos os entrevistados afirmam que Cobain estaria tentando um divórcio litigioso, baseado na notória infidelidade de Love -o que diminuiria sensivelmente o dinheiro reservado a ela.
"As motivações de Love são várias. Em primeiro lugar, o dinheiro e, depois, a fama. Love poderia fazer tudo sozinha, mas só conseguiu notoriedade após a morte de Cobain. Talvez ela tivesse ciúme do Nirvana", diz o jornalista.
Bloom, que já foi crítico da "Rolling Stone", diz não entender o suicídio do líder do Nirvana naquele ponto da carreira. Para ele, Cobain tinha outras saídas se o casamento e o sucesso tivessem se transformado em problemas.
"Há muitas perguntas no caso. Por que Love estava tanto tempo longe de Cobain? Por que a autenticidade do bilhete de suicídio foi verificada com amostras fornecidas por Love e não pela mãe de Kurt, por exemplo?", diz.
Ele não arrisca conclusões. "Fiz uma especulação sobre o que aconteceu. Por isso o título do artigo é 'Quem Matou Kurt Cobain?'. A resposta pode ser: ele mesmo."

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