São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996 |
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África ressuscita curandeiros contra a Aids
AURELIANO BIANCARELLI
Até cinco anos atrás, esses líderes tribais não acreditavam na existência da Aids. "Achavam que era a doença do emagrecimento, uma enfermidade que eles sabiam curar", diz o antropólogo Carls Kendall, 48, da unviersidade de Nova Orleans (EUA) e pesquisador em Lusaka, capital da Zâmbia. Entidades internacionais e governos locais passaram a ensinar aos curandeiros o que é Aids, como evitá-la e o que se pode fazer para diminuir seus danos. "Não há AZT nem medicamentos básicos. Os curandeiros associam a medicina tradicional com o que aprenderam. Diarréias são tratadas com ervas." A Aids e as mudanças nas práticas sexuais na África Negra foram temas debatidos no encontro internacional sobre "gênero, sexualidade e saúde" que aconteceu esta semana no Rio. A conferência reuniu pesquisadores de 20 países e foi patrocinada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Segundo Kendall, a epidemia dizimou centenas de vilarejos e ainda provoca filas de funerais nos cemitérios de Lusaka. Ele acredita que a doença acabará sendo contida pela própria população, que lentamente está mudando hábitos e passando a usar preservativos. Michael T. Mbizvo, da Universidade do Zimbábue, estima que em seu país a doença já atingiu 200 mil pessoas, quatro vezes mais do que os números oficiais. Os infectados seriam 1 milhão numa população de 10,5 milhões de habitantes. Ele diz que a epidemia ainda avançará nos países onde chegou mais recentemente, como o próprio Zimbábue, Malaui, Botsuana e África do Sul. Em outros países como Nigéria e Uganda, a Aids já ameaça 30% da população. Um estudo com mulheres grávidas do Zimbábue mostrou que 18% estavam contaminados com HIV e que 84% se infectaram com o próprio marido. Na Zâmbia, a porcentagem de grávidas infectadas salta para 30%. O índice de infecção chegaria a 70% entre prostitutas das grandes cidades. Segundo o pesquisador do Zimbábue, as migrações em busca de trabalho são comuns nos países africanos. Muitas vezes a mulher passa meses sozinha nos vilarejos enquanto o homem busca trabalho nos centros industriais. Uma pesquisa feita entre trabalhadores de uma região do Zimbábue revelou que 19% deles estão com o vírus. Essa porcentagem corresponde à mesma registrada entre a população carcerária no Brasil, grupo considerado de alto risco para a Aids. Texto Anterior: Secretário culpa o Real Próximo Texto: Risco ainda persiste Índice |
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