São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 1996
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Número 1 do mundo treina com favelado

RODRIGO BERTOLOTTO
DO ENVIADO AO RIO

A convite da número um do mundo Steffi Graf, a favela do Vidigal, na zona sul do Rio, entrou no cenário internacional do tênis.
Sem ter com quem treinar anteontem e ontem, a alemã pediu um parceiro na quadra do Maracanãzinho, e o escolhido foi o baiano Everaldo Miranda Ferreira, 22.
Ex-catador de bolas e atualmente professor da modalidade no luxuoso hotel Sheraton, Everaldo aceitou o convite na hora.
"Ainda bem que choveu no sábado; assim, eu não tive como dar aulas. Mas, mesmo que tivesse sol, eu cancelaria tudo para treinar com ela", disse.
O jogo de fundo de quadra foi privilegiado nos dois treinamentos, mas Graf pediu também para Everaldo sacar para que ela aprimorasse a recepção.
O contato entre a milionária do tênis -Graf está entre os 40 atletas mais ricos do mundo- e o favelado incluiu até uma partida improvisada com dois games.
Perguntado sobre seu desempenho frente à adversária do sexo oposto, respondeu: "Pô, agora você me matou. É claro que ela venceu fácil".
A premiação de Everaldo foi uma dezena de fotos tiradas ao lado da estrela. "Nem pensei em dinheiro quando fui convidado".
Na única troca de palavras entre os dois, no final do treino de sábado, Graf perguntou onde ele treinava e comentou que estava fazendo muito calor na cidade.
Everaldo, que também comanda os catadores de bola no torneio, mudou-se com dez anos para o Rio, deixando a casa dos avós em Jacobina, interior da Bahia.
Ele veio morar com a mãe em um prédio em Ipanema, zona sul, onde seu padrasto era porteiro.
Com a morte deste, ele e sua mãe, que é empregada doméstica, tiveram que mudar para a favela do morro do Vidigal, situado entre os bairros nobres do Leblon e São Conrado.
"A vida lá é meio complicada, mas eu ganho R$ 500 e dá para levar", disse Everaldo.
Ele começou a catar bola aos 16 anos. Aos 18, já começava a dar aulas aos hóspedes do Sheraton.
Se o tênis ainda não possibilitou sua saída do bairro pobre, pelo menos Everaldo tem um trunfo: é o vice-campeão juvenil carioca, título que conseguiu em 95.
(RB)

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