São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 1996 |
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Impunidade
VALDO CRUZ Brasília - Massacres como o de Eldorado de Carajás (PA) acontecem por vários motivos. Um deles, sem dúvida, é o sentimento de impunidade que reina entre os policiais militares.Escondidos atrás do discurso que prega a defesa da segurança pública, policiais em todo o Brasil, e não só no Pará, costumam praticar atrocidades. Contam sempre com a frase mágica: reagimos em legítima defesa. É o que os advogados dos PMs de Eldorado de Carajás estão alegando. Os laudos, porém, desmentem essa versão. Os sem-terra foram assassinados. Além disso, policiais sanguinários, em boa parte do Brasil, sabem que não serão julgados pela Justiça comum. Têm a "regalia" de uma Justiça própria, a militar. Recentemente, a Folha publicou reportagem mostrando como essa justiça é corporativa. Nem sempre os PMs são julgados. Muitas vezes são absolvidos dentro da própria corporação. Tramita no Congresso um projeto, de autoria do deputado Hélio Bicudo (PT-SP), transferindo para a Justiça comum o julgamento de PMs. A simples aprovação do projeto não acabará com os conflitos existentes no país. A origem está na imensa dívida social brasileira. Mas poderia, com certeza, intimidar muitos policiais. O assunto deve ser tratado hoje em reunião dos três Poderes da República, convocada para discutir formas de agilizar a reforma agrária no país. Os presidentes Fernando Henrique Cardoso (Executivo), José Sarney e Luís Eduardo Magalhães (Legislativo) e Sepúlveda Pertence (Judiciário) vão tentar solucionar um problema que se transformou em vergonha nacional. Infelizmente, reuniões desse tipo somente acontecem depois de tragédias como a do Pará. Pelo menos 19 trabalhadores sem-terra tiveram que ser assassinados para despertar os homens que comandam o país. O que se espera do encontro é que saiam medidas concretas. E não discursos de boas intenções, como sempre ocorrem nessas ocasiões. Texto Anterior: Inflação de cadáveres Próximo Texto: É fácil governar o Brasil Índice |
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