São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 1996 |
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A universidade do 3º milênio
DARCY RIBEIRO Eu disse um dia, de coração partido, que minha filha tinha caído na vida. Referia-me à Universidade de Brasília, avassalada pela ditadura militar que lhe impôs um interventor incapaz de estar à frente daquele projeto desafiante. Felizmente, como eu esperava, minha filha se recuperou, graças à democracia, e agora floresce esplêndida.Hoje, meu coração dói por outra filha minha, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Eu a sonhei como universidade do terceiro milênio, capacitada a dar ao Brasil o completo domínio das ciências e das tecnologias que vão estruturar o mundo futuro. Consegui recursos para construir, em ritmo de Brasília, com projeto de Oscar Niemeyer, os edifícios do seu campus. Só pedem pequenas complementações para constituir uma das mais belas e bem-estruturadas de nossas universidades. Já é das melhores equipadas em alguns campos, como biofísica. Cometi, porém, um erro fatal. Para libertar o reitor dos encargos burocráticos que tomam energias que ele deve devotar às atividades acadêmicas, científicas e tecnológicas, parti a universidade em dois corpos: uma fundação administrativa, para tarefas burocráticas, e a universidade propriamente, sob regência de uma reitoria autônoma. Desgraçadamente, porém, sobreveio ali o temido domínio dos órgãos meios sobre os órgãos fins. A dirigente da fundação se sobrepôs ao reitor, atribuindo-se salário maior do que o do reitor, e colocando este sob seu comando. Criou um ambiente de arbítrio que revolta professores e estudantes. Alguns dos mestres insubstituíveis que conseguimos levar para o campus, para implantar laboratórios de pesquisas e orientar programas de pós-graduação, saíram ou estão saindo da UENF. Continuo, entretanto, pondo toda fé na UENF, em sua capacidade de lavar-se do que jogaram sobre ela, para florescer e cumprir seu destino. Apesar do desgosto que me dá o que se está sendo feito na UENF, destinei a ela toda a verba de que podia dispor como senador -1,3 milhão, destinados a alguns dos projetos que me são mais caros: A Escola de Cinema e Televisão, implantada no velho Colégio dos Jesuítas, restaurado com recursos dados por empresas, graças aos esforços da coordenadora de implantação; O Herbarium, que deve ser implantado no edifício cedido pela Academia Brasileira de Letras, terá amostras completas -folha, flor, fruto, casca, raiz e respectiva documentação botânica-, de cada uma das plantas da riquíssima flora brasileira. Contará também com laboratório de estudos bióticos, botânicos e ecológicos da flora brasileira, com especial atenção para suas plantas úteis; Consegui também recursos para a restauração do Solar da Baronesa, uma magnífica edificação colonial, também cedida pela ABL. Lá funcionará um Seminário de Estudos Internacionais; Foi também contemplada a Faculdade de Educação e Comunicação, que concretizará os ideais de Anísio Teixeira -um novo padrão de escola superior de formação de professores de ensino fundamental, médio e supervisor. Nada é mais reclamado hoje que integrar os novos meios de comunicação de massa com a tecnologia educacional, para formar comunicadores educacionalmente responsáveis e professores capazes de usar toda a potencialidade da informática e dos meios audiovisuais de educação. Texto Anterior: É fácil governar o Brasil Próximo Texto: O Brasil arcaico contra o Brasil moderno Índice |
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