São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 1996
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A morte na Web

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

Um copo de vinho, 50 cigarros, dois biscoitos de maconha, dois balões de ácido nítrico.
Essa lista é parte da dieta maravilhosa do dr. Leary na semana passada.
A página de Timothy Leary (http://www.leary.com) sempre foi razoavelmente mórbida.
Um diário das drogas ingeridas por ele e um relatório detalhado do câncer inoperável que lhe rói as entranhas seriam suficientes para tirar o apetite.
Só que o velhinho psicodélico anda anunciando aos quatro ventos que vai se matar na Web. Agora é ver se ele vai até o fim nesse oportunismo terminal.
Enquanto isso, a leary.com vai ficando congestionadíssima.
Depois de alguns dias de boatos desencontrados, ele anunciou que vai tomar um coquetel de drogas em frente a uma câmera e "apagar" aos poucos, sem dor, em sua casa de Beverly Hills.
Se o guru do LSD levar mesmo seu plano até o fim, vai bater um novo recorde de exibicionismo na Internet.
A Web já abriga gigabytes de páginas que fazem da vida privada assunto público, mas essa deverá ser a primeira a documentar uma morte.
Grátis
"É de graça." "É tudo pelo preço de uma ligação local." Esse sempre foi o canto de sereia da Internet.
O gratuito acaba saindo caro. Se você computar o tempo que gasta aprendendo a mexer com o computador, o preço do próprio, da linha telefônica etc., vai ver que o brinquedo não tem nada de barato.
Mas não desanime: o número de coisas que você pode fazer absolutamente de graça na Internet ainda é enorme -e tende a aumentar, por incrível que pareça.
Ontem, uma empresa chamada Juno lançou seu produto: correio eletrônico por custo zero. A Juno distribui o programa e tem sete números de telefone para enviar e receber as mensagens.
Você só tem que aturar os anúncios que aparecem na tela do computador cada vez que conecta com a Juno para mandar ou receber mail. Até que é razoável.
Para quem está fora dos Estados Unidos, não é tão bom negócio assim, porque precisa pagar a ligação internacional para lá.
A Juno mal estreou e já tem um concorrente: a Free Mark vai lançar um serviço parecido em maio, também patrocinado por anunciantes, que só vai funcionar nos Estados Unidos.
Outro programa gratuito baseado na mesma idéia é o Freeloader (http://www.freeloader.com).
Ele pode ser programado para fazer download de programas, copiar páginas no computador etc. A idéia é livrar o usuário da espera interminável por páginas e usar o computador para fazer download em horas normalmente inativas, como de madrugada, por exemplo. O truque é o mesmo: o Freeloader vem infestado de anúncios.
Para completar, a Free Ride (http://www.freeride.com) é uma empresa que paga a conta de acesso à Internet dos seus clientes.
É o velho sistema de cupons que chega à Internet: você compra sanduíches da marca X e margarina da marca Y, junta as notinhas e manda para a Free Ride. Ela se encarrega de descontar uma parte do que você gastou da conta do seu provedor de acesso.
A barganha parece original, mas é afinal a mesma da TV: o conteúdo é de graça, mas você aceita que sua casa, seu quarto, sua sala sejam invadidos por propaganda.

E-mail±netvox@folha.com.br

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