São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996 |
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Caruaru e Corumbiara vs Chicago e Cleveland
BARBARA GANCIA
Connecticut, Califórnia, Chicago, Columbia, Cleveland. Como é distante dos vizinhos ricos do norte este nosso paiseco pré-revolução francesa! O massacre dos sem-terra fez que os tapuias da cidade grande caíssem na real: no Brasil dos Eldorados dos Carajás o único exemplo palpável de "tecnologia" está no velcro das tarjas de identificação dos uniformes dos policiais, premeditadamente arrancadas para evitar que as testemunhas da chacina dessem nome aos bois. Mas se nós, figuras de Portinari da barriga-d'água, ainda não fomos contagiados pelo Iluminismo, nossos colegas de continente sofrem o mal ao inverso. Por terem se esbaldado com a lição francesa, correm risco iminente de overdose. Dois personagens caem de luva para ilustrar o sintoma: o Unabomber, Theodore Kaczynski, durante 18 anos o homem mais procurado pelo FBI, e Jessica, a menina de 7 anos que morreu tentado quebrar o recorde da pessoa mais jovem a cruzar os Estados Unidos pilotando um avião. Ambos são exemplos do que pode acontecer a uma sociedade próspera, que se torna indolente e "cerebral" em demasia. Em manifesto publicado a contragosto pelos jornais "The New York Times" e "Washington Post", o Unabomber (UN de universidade e A de aeroporto, seus alvos preferidos) afirmou: "O progresso tecnológico trará desespero, desemprego e ruína ecológica." PhD de Harvard, abandonou os mimos do progresso para viver no mato como "Big Foot". Jessica, por sua vez, é um produto irretocável da mentalidade "New Age". Nunca foi à escola, nunca assistiu televisão ou leu livros para criança. Segundo afirmou a mãe, a escola "não é um lugar adequado para crianças, pois não as trata como indivíduos". A "indivídua" Jessica foi parida na banheira de casa, "para aliviar traumas do parto". Ela pilotava avião, mas nunca tomou milkshake. Os pais, vegetarianos, não permitiam. O Unabomber também tinha suas idiossincrasias. Para livrar o mundo das mazelas do progresso, não utilizava luz elétrica. Isso não o impediu de matar três pessoas com cartas-bomba e ferir outras 23. Pois comparado ao Unabomber e aos pais de Jessica, ainda sou mais Carandiru, Candelária e Caruaru. Texto Anterior: Alunos consideram 'superprova' fácil Próximo Texto: Aposta óbvia; Em falta; E o Barrichello?; Chá de sumiço Índice |
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