São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996 |
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Buñuel expõe o desejo
INÁCIO ARAUJO
Os dois eram católicos. Hitchcock, praticante. Buñuel, surrealista e rebelde. Os dois, obcecados pelo desejo. Hitchcock, reprimido. Buñuel, nem tanto. Em "Um Corpo que Cai", Hitchcock fez James Stewart se apaixonar por Kim Novak e desdobrou o papel feminino em dois (no início, Kim faz papel de atriz; depois, é a própria personagem). Em "Obscuro Objeto", Buñuel fez Fernando Rey se apaixonar por uma só mulher, mas desdobrou o papel de Conchita em duas atrizes: Carole Bouquet e Angela Molina. Com isso, coloca o desejo no centro do filme, ao mesmo tempo em que desloca o espectador de sua posição confortável de espectador. O personagem desejante e nós, que vemos o filme, passam assim pelo mesmo desconforto, pela mesma insatisfação. Ao mesmo tempo, as duas Conchitas fingem amar (ou amam?) o homem -como se fossem atrizes. Mistério e obscuridade do desejo são esquadrinhados -não esclarecidos- num quadro de rara liberdade, digna de mestre. Buñuel cria o quadro para mostrar o que é mostrável no desejo: a maior dor do homem que é, também, a única chance de libertação desse ser incompleto. (IA) Texto Anterior: Polícia fina chama traveca de cavalheiro! Próximo Texto: Sobe; Desce; Camarada Índice |
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