São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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Solução acentua ânimo para aprovar impeachment

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente Juan Carlos Wasmosy, ao nomear o rebelde general Lino Oviedo como ministro da Defesa, apenas postergou o impasse institucional paraguaio.
As primeiras reações da oposição -que se unira em torno não de Wasmosy, mas da instituição presidencial ameaçada- indicam que ela sentiu-se manipulada.
Caso, por exemplo, de Domingo Laíno, líder do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), segundo colocado na eleição presidencial de 1993.
Consequência inevitável: uma predisposição para tentar sair do impasse pela via legal e institucional que é o impeachment do presidente da República.
O que, se ocorrer de fato, derrubará também o general Oviedo de seu novo posto de ministro.
A Procuradoria da República está para enviar ao Congresso relatório sugerindo a abertura do processo político de praxe em função de denúncias de que o presidente beneficiou com contratos governamentais uma empresa originalmente sua.
Trata-se da Econempa, hoje em nome do primo de Wasmosy, Rubío Gimenez, e de um sócio, Hugo Aranda, o principal operador.
O processo político deságua no impeachment, caso o presidente seja considerado culpado.
Em minoria
É uma hipótese possível, na medida em que Wasmosy conta hoje com o apoio de, no máximo, um terço do Congresso paraguaio, em consequência das cisões internas em seu Partido Colorado.
A cisão principal é comandada por Luiz Maria Argaña, que Wasmosy derrotou na disputa interna pela candidatura "colorada" à Presidência.
Se o cenário político é complicado, o social começa a ficar igualmente inquietante.
No final de março, as quatro centrais sindicais convocaram uma greve geral que teve a adesão de cerca de 90% dos trabalhadores paraguaios.
Agora, para 2 e 3 de maio, as centrais repetiram a convocação, desta vez para uma greve de 48 horas.
O general Oviedo, de seu lado, iniciou prematuramente a sua própria campanha eleitoral.
O cálculo do general, pelo que a Folha pôde apurar, ampara-se na tradição político-militar local: general sem comando de tropas perde, instantaneamente, seu poder, tanto militar como eleitoral.
Negociação
Por isso, Oviedo não podia aceitar a destituição do comando do Exército. Negociou com Wasmosy uma troca: deixaria o comando desde que fosse nomeado ministro da Defesa.
O presidente contrapropôs o inaceitável para Oviedo: assumir a Embaixada do Paraguai na Alemanha, o que o afastaria totalmente do cenário político, militar e eleitoral.
Proposta e contra-proposta indicam, claramente, que Oviedo ganhou o cabo-de-guerra com o presidente.
(CR)

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