São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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SOLUÇÃO FALSA

Só mesmo uma boa vontade sem limites permitiria chamar de solução a suposta decisão do presidente paraguaio Juan Carlos Wasmosy de convocar para o Ministério da Defesa um general rebelado, Lino Oviedo, comandante do Exército até ontem.
Vale no caso lembrar o óbvio: o presidente da República é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. O militar que se recusa a acatar uma decisão do comandante-em-chefe deve ir para a prisão, por insubordinação, jamais para um posto ministerial.
Por isso, o aparente desfecho da crise paraguaia só pode ser tomado como provisório. Na verdade, trata-se de prolongar o impasse institucional.
Os ingredientes da crise permanecem. Numa ponta, um general, com prestígio nos quartéis, como o demonstra o fato de o presidente não ter conseguido removê-lo. Na outra, um presidente enfraquecido, não apenas pelo episódio em si, mas também pelas suspeitas de corrupção que cercam a sua gestão.
Juan Carlos Wasmosy está sendo acusado de ter beneficiado, com contratos governamentais, uma empresa que era de sua propriedade até eleger-se presidente, em 1993.
Parece haver, portanto, elementos para que se inicie um processo, no Congresso, similar ao que levou ao afastamento dos presidentes Fernando Collor, no Brasil, e Carlos Andrés Pérez, na Venezuela.
De positivo, em todo o episódio, apenas a pronta reação da comunidade internacional, em especial dos Estados Unidos e dos sócios do Paraguai no Mercosul (a Argentina, o Brasil e o Uruguai). A ameaça de retaliações, se triunfasse o golpe insinuado pelo general Lino Oviedo, parece ter funcionado como principal elemento de contenção da "quartelada".
Um bom sinal, ainda mais se se lembrar que há apenas 13 anos, o que em termos históricos não é nada, todos os três sócios do Paraguai no Mercosul viviam sob regimes fortemente autoritários.

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