São Paulo, quarta-feira, 24 de abril de 1996
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A miséria faz a diferença

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Quarta-feira que vem é 1º de maio e o governo ainda não decidiu qual será o valor do salário mínimo, hoje em R$ 100.
Não é apenas uma questão de falta de dinheiro. Os governistas discutem com Fernando Henrique Cardoso até que ponto o salário mínimo ainda é um emblema importante no país.
Já está decidido que haverá algum tipo de aumento. O que o governo avalia, agora, é o impacto que teria sobre a imagem de FHC conceder um reajuste em torno de 5%, 10% ou 15%.
Daí surgiu a idéia de conceder um reajuste maior para aposentados e outro menor para o salário mínimo. Afinal, no entender do governo, quem pressiona para aumentar o salário mínimo são os aposentados.
Mais precisamente, são os 14 milhões de aposentados vivendo de uma miséria mensal que fazem a diferença. José Serra, ministro do Planejamento, diz tremer ao pensar numa manifestação de aposentados como a que Fernando Collor de Mello enfrentou, no início da década, por segurar um famoso aumento de 147%.
Já o salário mínimo só serve para milhares de funcionários de prefeituras e Estados terem aumento.
Na iniciativa privada, quem ganha salário mínimo não consegue articular ações contra o governo. E, no raciocínio frio do governo, não vale a pena dar bola para empregadas domésticas e outros trabalhadores sem capacidade de organização.
Para resumir, por mais que o governo venha com números e cálculos, os reajustes para os aposentados e para o salário mínimo estão sendo gestados unicamente com base no ganho político que possam render.
É a forma de o governo FHC fazer o seu trabalho na área social. Em certa medida, é a máxima de Rubens Ricupero rediviva: "O que é bom, a gente fatura. O que é ruim, esconde".
Aos aposentados, barulhentos, um aumentinho maior. Para os miseráveis silenciosos do salário mínimo, só um reajuste mixuruca.

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