São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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Comércio cobra juro médio de 235,38%

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Os juros cobrados pelo comércio de São Paulo, entre outubro de 95 e abril de 96, bateram, na média, em estratosféricos 235,38% anuais.
É o que mostra pesquisa feita pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da entidade, compilou anúncios publicados na Folha e em outros quatro jornais de grande circulação para chegar aos números apontados. Conclusão da Anefac: "Apesar das recentes quedas de juros no mercado financeiro, estas não se refletiram no comércio, no qual os juros continuam absurdamente elevados".
Concorda o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Élvio Aliprandi: "Não pode ser diferente quando o comerciante ou o industrial, para descontar uma duplicata, paga, também na média, 101% de juros anuais".
Aliprandi responsabiliza pelos juros elevados os depósitos compulsórios (recolhimento obrigatório que os bancos fazem junto ao Banco Central de parte de seus recursos), que reduzem o dinheiro disponível para emprestar.
Perfume é recorde
Mas essa explicação é insuficiente para justificar casos que a Anefac qualifica de "absurdos".
O maior deles apareceu em uma loja de artigos importados, que anunciou um perfume com preço à vista de R$ 22,00 ou duas parcelas de R$ 13,00, uma na compra e outra em 30 dias. O preço final seria apenas R$ 4,00 superior.
"Parece pouco para o cliente desavisado, mas, quando calculados os juros, significam juros mensais de 44,44% ou de 8.146% ao ano."
O relatório aponta o fato de que lojas de importados com financiamento direto do exportador conseguem juros de 4% a 6% ao ano no exterior. "Entretanto, este benefício nunca é repassado ao seu cliente, no crediário", diz o documento da Anefac.
A pesquisa foi subdividida em setores do comércio, das grandes redes às pequenas, passando pelo comércio especializado em informática e por agências de turismo.
As recordistas dos juros são as lojas de artigos de ginástica, que cobram 693,51% ao no.
O juro mais baixo é o das revendedoras de veículos (64,59% anuais). Mesmo assim é cerca de cinco vezes a inflação prevista para 1996 (em torno de 12%).
Na conclusão, a Anefac diz que "poucas vezes na história o comércio teve tantos ganhos financeiros quanto está conseguindo (apesar da choradeira)".

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