São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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TRUCO

O caso Banespa seria ridículo, não estivesse em jogo dinheiro público. O cômico fica portanto trágico.
De questão de princípio o assunto vai convertendo-se em questão sem fim. Antes, o governo de São Paulo era radical na defesa do princípio de que o banco deve permanecer estadual, para fazer política agrícola, industrial etc. Já o governo federal não via "razões doutrinárias" para a existência de bancos estaduais, na expressão lançada pelo então presidente do BC, Pérsio Arida.
Mais de um ano depois, as partes que brigavam ideologicamente pelo futuro do Banespa agora competem para livrar-se da "batata quente".
Assim, no início da semana o governador de São Paulo fazia chegar aos jornais a versão de que "jogava a toalha", e o senador Pedro Piva fazia insinuações nada sutis de que o governo estadual poderia, uma vez descartado o Banespa, deixar de usar a instituição para movimentar seu caixa.
Ato contínuo, reunidos o presidente FHC e o senador Gilberto Miranda, rapidamente divulgam que está tudo por pouco, o Banespa prestes a ser devolvido, parte da dívida acumulada nos últimos meses perdoada. E, mais, que o estratagema pode valer para outros Estados em dificuldades.
Seja qual for a versão final desse acordo movido a desacordos, vai aos poucos consolidando-se a impressão de que a estratégia governamental de "tirar todos os esqueletos do armário", como disse o secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, produz mais calor do que luz, e cada vez mais fumaça.
No limite, talvez prevaleça a hipótese de que o governo resolveu lançar-se de corpo e alma em socorro de governos estaduais que jogarão um papel decisivo nas eleições municipais que se aproximam.
Um gigantesco e generoso Proer para o setor público está em curso, ampliando as já significativas dúvidas sobre a consistência fiscal do plano de estabilização.

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