São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 1996
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Macaquice perigosa

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Belo texto o do caderno Mais! de domingo, de autoria de José Luís Fiori, professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"O Welfare State segue sendo a mais ambiciosa e bem-sucedida construção republicana de solidariedade e proteção social", escreve Fiori. Impecável.
Tenho dúvidas apenas quanto ao peso que Fiori atribui ao Tratado de Maastricht (o que define regras e metas para a unificação monetária da Europa) no esquema, em acelerado andamento, de revisão do modelo.
Suspeito que a maior parcela de culpa por uma eventual derrubada dessa teia de solidariedade deve recair sobre a ditadura dos mercados financeiros, os únicos realmente globalizados até aqui.
Os governos, do Primeiro como do Terceiro Mundo, tornaram-se escravos (consentidos) dos ditames desses mercados. Temem que qualquer mexida (ou, no caso europeu, qualquer não-mexida no Estado de Bem-Estar) provoque a ira dos mercados, o ataque à moeda do país rebelde e a fuga de capitais.
Tudo o mais é decorrência. É evidente que alguns excessos contribuem para tornar vulnerável essa "ambiciosa construção republicana". Há países da Europa em que os subsídios para o desempregado são tão suculentos que estimulam o cidadão a permanecer dependente do Estado de Bem-Estar, em vez de aceitar um emprego menos atraente.
Mas o que se discute hoje, na Europa, não são os excessos e, sim, a construção em si. Com o crescente risco de que se jogue fora a criança junto com a água do banho.
O problema é que o espírito macaqueador que anima boa parte das elites tupiniquins faz com que busquem amparo na discussão européia para escapar da única macaquice aceitável, que é copiar, no limite do possível, o que se fez de bom no mundo.

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