São Paulo, sexta-feira, 26 de abril de 1996 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Cameron traz o fim do mundo ao presente
MARCELO REZENDE
O milenarismo de "Estranhos Prazeres" é fruto direto das obsessões de seu roteirista, o cineasta James Cameron, criador dos dois filmes da série "O Exterminador do Futuro". Uma das mais delirantes ficções sobre homem e tecnologia. Como sempre em Cameron, a idéia do fim da humanidade não se projeta para os dias que virão, mas é um dado inegável do presente. A civilização, em sua visão da realidade, já está moribunda, vitimada pela decadência urbana. Assim é "Estranhos Prazeres". Na L.A. da virada do século, a polícia já não tem nenhum controle sobre a população, as gangues tomam conta das ruas e as grandes corporações têm mais poder que o governo. Estamos em momento de corrupção. Não há confiança ou afeto, apenas o egoísmo que serve para que alguém possa se manter vivo. Nesse cenário pérfido há a busca alucinada do prazer. E o tipo mais avançado é a compra de lembranças e sensações alheias, armazenadas por uma máquina que pode ser ligada ao cérebro. Assim, se um homem comete um assassinato, um outro pode comprar a "sensação" do assassino, vendida de maneira ilegal. E a consequência de toda forma de vício é a necessidade de um fornecedor. Logo, há Lenny Nero (Ralph Fiennes), um ex-policial que vive do tráfico da memória. Nero é um homem obstinado por uma mulher que o abandonou, e que se tornou a mais quente estrela de rock do período. Ainda que sem saber os reais motivos, esses dois perigos da vida de Nero -o amor doentio e sua profissão- o envolvem em acontecimentos que podem levar seu país a uma crise social sem fim. Rodado de forma a parecer um longo videoclipe (2h30), "Estranhos Prazeres" oscila entre o bom momento (Bigelow não é uma cineasta desprezível) e a mais desprezível tolice, não se resolvendo plenamente em nenhum de seus vários temas: a crise social, a ficção científica ou o cinema de ação. Recicla o que o espectador já está farto de ver. Filme: Estranhos Prazeres Produção: EUA, 1995 Direção: Kathryn Bigelow Com: Ralph Fienes, Angela Basset Quando: estréia hoje no Metro 1, Gemini 2, Top Cine e circuito Texto Anterior: Eleazar de Carvalho abre festival em Itu Próximo Texto: 'Underground' é irregular Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |