São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Realismo e paciência

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Mergulhados num realismo político que, na verdade, acaba ignorando a realidade, alguns membros do governo vêem nas preocupações com a desigualdade social, manifestadas com insistência depois do massacre de Eldorado, um simples festival demagógico.
A equação social só poderia ser resolvida com o famoso aumento do bolo: mais investimento, mais crescimento, mais emprego. Mas como tudo isso é muito difícil e demora, tenham paciência e não venham com demagogia.
*
Paciência é o que as pessoas cada vez mais parecem estar perdendo em relação ao Planalto e ao Congresso.
Também aguardava-se alguma eficiência na coordenação política das reformas constitucionais. E maleabilidade em pontos da estabilização econômica.
Parece que ainda quer ganhar mais. Boa parte dos parlamentares finge desconhecer que o programa de reformas do Estado não é um mero capricho do Planalto, mas uma necessidade do país.
A irritação com Planalto e Congresso não é, como querem alguns, obra orquestrada da velha esquerda atrasada, blablablá. Do MST à Fiesp, a bronca está solta.
Tanto é assim que o governo resolveu mostrar algum serviço, ao menos formalmente: criou a pasta da Reforma Agrária e saiu-se com um estranho ministro extraordinário da Coordenação de Assuntos Políticos.
Sem crítica e sem reclamação, estaria tudo na mesma -como pode acabar ficando.
Esperemos que não.
*
Dita ou não, a famosa frase "esqueçam o que escrevi", atribuída ao presidente Fernando Henrique Cardoso, entrou para o folclore. Poderia ser acompanhada de outra, essa não dita pelo presidente: "Esqueçam o que falei".
Ao menos é o que se deduz da leitura de trechos do discurso do então senador na aprovação do projeto de renda mínima de Eduardo Suplicy. Entusiasmo proporcional ao silêncio de hoje.
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E la Dorothea, que tal? Como diriam los três amigos, pobrezita, tán sorridente, tán simpática, tán Mercosur... E viró miguelita.

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