São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996 |
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Uma bala perdida pode ser fatal no clássico
ALBERTO HELENA JR.
Afinal, uma simples vitória de 1 a 0 do tricolor pode mantê-lo -e, por tabela, o Santos- na linha da conquista do título do segundo turno, o que provocaria o tal quadrangular final. Para o campeonato, como negócio, pode até ser uma boa. Mas seria um golpe rasteiro na justiça do jogo, entendida como a vitória do mérito, palavrinha de sentido e uso tão desprezados nesta nossa cultura imposta pela Lei de Gérson. Explico: clássico é chumbo trocado -uma bala perdida pode ser fatal. E eis o Palmeiras, que acumulou méritos incomparáveis na história dos nossos campeonatos, tendo de se submeter a novas provas para as quais os demais nem de longe se habilitaram. Pelo menos, não como esse time que somou a fantástica média de mais de quatro gols por partida até agora. E, ao contrário do memorável Santos de Pelé dos anos 60, que goleava, mas também sofria goleadas, o Palmeiras não levou mais do que meio gol, em média, por jogo. Tudo isso, envolto num futebol requintado, inteligente, veloz, emocionante e plasticamente belo. Será que isso tudo vale tanto quanto a medíocre campanha cumprida pelos seus pares? Ou quase? Obviamente que não, mesmo porque a essência do jogo é o gol, cujo significado na sua origem é meta, objetivo, alvo. Portanto, o objetivo do futebol é marcar gols. Não tomá-los passa a ser um segundo estágio que visa a atingir outro objetivo: o resultado da partida. Logo, a soma de gols, ou o mérito acumulado, deveria ser premiada com uma pontuação extra, na exata proporção do feito e não nesses pontinhos a mais que os campeões de turno levarão para o eventual quadrangular decisivo. Por exemplo: quem fizesse três ou mais gols por partida, receberia um ponto de bonificação. Vencendo, leva quatro; empatando, dois; perdendo, um. Neste caso, o Palmeiras enfrentaria o São Paulo não com míseros três pontos de diferença, mas com justíssimos cinco pontos, só neste segundo turno. Somando-se com o primeiro, minha calculadora enlouqueceu. E, se o clássico de hoje não fosse decisivo, ao menos, seria um espetáculo singular, com o São Paulo partindo pra cima do Palmeiras atrás da goleada que lhe conferiria mérito suficiente para sonhar com o quadrangular. * O atacante Luizão ficou entre os reservas na comovente virada da seleção brasileira sobre a África do Sul, na última quarta-feira. Fosse Zagallo um técnico tradicional, teria optado pela entrada do atacante palmeirense no segundo tempo do jogo, no lugar de Jamelli. Afinal, precisava tirar a diferença de dois gols imposta pelos sul-africanos. Mas Zagallo recorreu a um volante -Zé Elias- para virar a lógica de pernas pro ar. Como se vê, no caso de Zagallo, sorte e competência andam tão juntas que nem sempre é possível distinguir uma da outra. Próximo Texto: Salários e Salários Índice |
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