São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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"O sistema é introjetado"

GERD BORNHEIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

"A razão atingiu hoje um esplendor extraordinário, único em toda a história. Eu entendo que o século 20 é de um racionalismo extremo. Não tanto nas ciências, embora nas ciências formais a razão continue plena, mas na ciência em geral nem tanto. Eu diria que se pode falar hoje, usando uma expressão hegeliana, em razão objetiva. A idéia de sistema, à qual já me referi, tem hoje uma força extraordinária na vida prática do homem. O homem vive hoje dentro de um sistema.
Nós vivemos dentro de uma sociedade que se caracteriza por um racionalismo enorme, mas muito desenvolvido. Eu queria chamar a atenção para esse fato, por meio de alguns exemplos. Quando eu vou a um banco, eu entro num sistema. Quando entro num supermercado, numa fábrica ou mesmo aqui, tudo é sistema. A minha casa é feita de modo sistemático, e todo o meu comportamento é compartimentalizado. Aqui se faz isso, lá se faz aquilo, quer dizer, eu sou todo setorizado. O homem não pode viver hoje sem o sistema. Então, quando os autores falam e escrevem contra o sistema, eu fico me perguntando em que realidade eles vivem. (...)
O sistema é como que introjetado, ele é assimilado como um modo de ser da pessoa. Para ser educado pela sociedade, eu tenho que assumir um sistema racional completo. É claro que isso talvez não satisfaça o homem. A gente vai ter que buscar outras coisas, outros tipos de comportamento, de atitude, de, afinal de contas, dimensões existenciais para compensar esse excesso de racionalidade. (...) O planeta Terra está sendo reduzido a um sistema."

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