São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Bichinho encontra seu lugar no mundo das cores

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

O espetáculo "O Planeta Lilás" capta com fidelidade o estilo da história homônima, de Ziraldo, publicada pela editora Melhoramentos.
Uma das marcas do escritor Ziraldo é a criação de universos para personagens que geralmente não encontram seu lugar no mundo.
A surpresa, em sua literatura para crianças, é, ao final, o leitor descobrir que o herói da história sabe onde está e quem são seus pares.
Flicts -uma espécie de herói inaugural do autor-, o Bichinho da história "O Planeta Lilás", o astronauta perdido de "O Pequeno Planeta Perdido" e até o menino de "O Menino Quadradinho" são personagens perplexos diante das situações desconhecidas em que são colocados.
Na peça, Bichinho (Carla Pagani) é também um ser minúsculo que mora no planeta da cor violeta. Viaja para conhecer o universo das cores, como elas se misturam, para que servem, onde são encontradas.
Auto-referenciais, as histórias de Ziraldo colocam esses heróis sobre as páginas e as tintas que desenham seus traços no papel. O tempo narrativo torna-se o tempo da leitura ou, no caso, do espetáculo.
"O Planeta Lilás" representa com limpeza cênica a situação quase tipográfica de seu enredo metalinguístico. Assim como as ilustrações de Ziraldo, que muitas vezes nada têm de figurativas, remetem ao momento de concepção visual do personagem.
Durante o espetáculo, o pequeno espectador vai reconhecendo que o vermelho, o amarelo são lápis coloridos. Fazem parte das idéias e do livro. O cenário é um papel em branco em que as cores manifestam seus conteúdos até encontrar palavras e combiná-las, formalmente, com os sinais da pontuação.
O tema é difícil para crianças menores, ainda não alfabetizadas. Mas provoca impacto no espectador que já conhece as letras. Estimula o estado de atenção, pois o público nessa faixa de idade fica quieto na platéia.
"O Planeta Lilás", dirigido por Carlos Arruda, tem trama simples que acerta sobre um assunto complexo, que é falar sobre o ato de escrever para crianças.
O enredo é enriquecido por canções curiosas (a música é de Débora Murbach e a trilha, de Albano Sales), que mimetizam o que é próprio de cada cor.
Aqui e ali, os personagens ganham atributos humanos. O preto, por exemplo, é um policial -por associação, seu uniforme é preto- que fala gíria e defende seu planeta de invasores.
Assim como na série "A B Z", com uma história para cada letra, em que o "A" é um homem-nome e existe nas coisas que se parecem com sua forma.
No espetáculo, as canções fazem como que um contraponto rítmico aos sinais de pontuação. Introduzem e separam cenas do musical das cores com coreografias que preenchem o cenário.
O maior show é o da iluminação, assinada por Luca de Lima. Efeitos de luz, cor e sombra, imprimem a atmosfera ágil e mutante dos planetas pelos quais Bichinho passeia, até descobrir que é apenas uma flor -uma violeta- guardada no livro.

Peça: O Planeta Lilás
Direção: Carlos Arruda
Elenco: Carla Pagani, Angelo Coimbra, Marcia Santiago, Margareth Arraes, Alexandre Jábali e Ludh Raposo
Onde: Teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel. 259-6508)
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 12,50

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