São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Maurício Monteiro

SUZANA CAMARÁ

Há uma reluzente diferença entre dedos, orelhas, braços e pescoços das mulheres chiques do Brasil.
Esta diferença chama-se Maurício Monteiro.
Joalheiro de 30 quilates e dono de uma coruscante e seletíssima clientela, Monteiro foge do brilho como o diabo da cruz.
"Quem deve reluzir é a jóia, não aquele que a faz", afirma.
Há mais de 20 anos no ofício -e, de uns cinco pra cá, o mais procurado pelas poderosas de São Paulo-, ele se recusa a fazer o que suas peças fazem invariavelmente nos salões elegantes da cidade: aparecer.
Maurício Monteiro, 43, não anuncia suas jóias, não dá entrevistas, não gosta de ver seu retrato em colunas sociais, não divulga nem sequer o endereço de seu escritório no único espaço onde permite que suas jóias sejam exibidas: o catálogo semestral da sofisticadíssima loja Daslu.
Prefere ser conhecido como um estudioso do ramo que se dá bem por entender as técnicas de sua arte, conhecer o perfil de suas clientes e saber agradá-las com o que há de melhor em jóias de qualidade.
Observar a evolução do mercado internacional de jóias é um dos "ossos" do ofício de Maurício.
Reconhecido como profissional exigente, não só aqui, como lá fora, Monteiro é um dos poucos brasileiros, se não o único, a frequentar desde os ateliês das grandes casas de jóias européias até as lojas de ourives e oficinas de cravação e polimento dos maiores mestres do planeta.
"Despojamento é coisa de americano", ensina Monteiro. "Modista, o americano acha que as jóias voltaram só para combinar com o revival dos anos 50; os europeus, que sempre usaram jóias de qualidade, nunca deixaram de dar valor ao que é bom e bem feito".
Carinho
Ele também. Nascido em Barretos, no interior paulista, Maurício tributa ao curso ginasial no extinto Colégio Vocacional de lá -revolucionário na época pela liberdade que oferecia aos alunos- seu interesse sem fim por todas as modalidades das artes.
Estudante de Direito e Economia na PUC em São Paulo, e já trabalhando na capital numa empresa agropecuária, ele resolveu transformar em negócio paralelo um antigo carinho que fazia à irmã, e que sempre resultava num baita sucesso de críticas entre suas amigas de Barretos: comprar pedras preciosas e dar a elas a condição de jóia.
Para isso, contratou oficiais capazes de materializar as idéias que desenhava e formou sua primeira clientela na vasta roda de velhos amigos espalhados pelo Brasil.
Desde o começo, lá por 1973, quando também já reformava peças demodês desses amigos, sem esconder que se inspirava em grandes joalheiros -como René Boivin, Van Cleef e Cartier-, esbanjou estilo.
Trabalhava numa oficina pequena, levava a jóia pronta até a casa de seu dono e via, com o passar do tempo, sua clientela aumentar por conta da propaganda boca-a-boca.
Nascida em berço esplêndido e tida como uma das beldades mais sofisticadas da cidade, a decoradora Detinha Nascimento, 38, assistente e braço direito do arquiteto e decorador Sig Bergamin, é uma das que estão antenadas no trabalho de Maurício desde que ele trocou Barretos por São Paulo.
"Para mim, as jóias de Maurício Monteiro são as mais classudas do Brasil. Seus anéis, em especial, são o máximo", diz ela.
Por correr atrás de soluções adequadas ao orçamento de cada cliente, Maurício ganhou fama instantânea. Afinal, a expressão de seus desenhos -adaptados aos materiais que chegavam a suas mãos- buscava a harmonia, o equilíbrio e o bom gosto.
"Eu sou uma das clientes de Maurício que mais reformam do que compram. Seu gosto é excepcional e sua integridade, também. Entrego minhas pedras a ele de olhos fechados", confessa Kanduxa Mendes Pereira, 36, gerente da Daslu, dona de uma elegância heráldica e conhecidíssima na cidade por sua intimidade com a alta moda internacional.
"Não adianta estudar gemologia ou trabalhar numa banca de oficina, se você não tiver interesse real por aquilo que faz. É ao direcionar o produto certo para cada pessoa que se desenvolve o dom do equilíbrio. E é conhecendo todas as técnicas que se materializa com mais facilidade qualquer inspiração", diz Maurício.
R$ 4.500,00
Ele não é ourives, muito menos oficial de cravação. É joalheiro.
Não faz jóia. Desenha e os outros executam. Mas, ao conceber uma peça, já sabe como ela deve ser feita.
Por isso é que investe tanto em viagens internacionais. São mais de cinco por ano, todas dedicadas a pesquisas.
Já sua freguesia convive muito bem é com jóias "de peso".
Por jóia "de peso", entenda-se qualquer uma cujo valor seja acima de R$ 4.500.
"Meu cliente padrão compra jóias umas cinco vezes ao ano. O dia dos Namorados, o Natal e o dia das Mães são os campeões de venda".
Mas, quem acha que mulheres formam a maioria das freguesas do moço, está ricamente enganado.
"Os homens compram igual às mulheres. A diferença é que eles gastam com mais facilidade. Apesar de caírem mais em tentação por uma jóia, as mulheres são freadas por seu poder aquisitivo -geralmente zelado pelo marido", explica ele.
O empresário Toninho Abdalla, 43, adora presentear sua mulher Maria Eugênia, 39, com jóias de Maurício. Amigo de longa data do joalheiro, ele diz que, apesar de Maurício "ter as jóias mais fantásticas do Brasil", seu grande diferencial está "no tratamento especial que oferece".
"O segredo do sucesso de Maurício está em seu serviço, superpersonificado. E olha que lidar com mulheres, não é fácil", garante Abdalla.
Não é preciso ser esperto para sacar que as jóias de uma mulher representam o poder e a ascensão de seus maridos. Mas será que os homens compram jóias só para suas esposas?
Intenção
"Jamais eu pergunto a um cliente qual a destinatária da peça que ele está comprando. Muito menos para a sua mulher, se ela gostou do presente que ele lhe comprou. Discreção é a alma do meu negócio", prega Maurício.
Malícia à parte, ele acredita que hoje em dia, na maioria das vezes, quando não é para sua mulher, a jóia comprada por seu consumidor masculino é destinada às mulheres com quem ele se relaciona profissionalmente. Não extraconjugalmente.
Se somarmos essa afirmação ao número absurdo de jóias Maurício Monteiro que enfeita colos, lóbulos, punhos e falanges refinadas da cidade, é possível se chegar a uma brilhante conclusão: São Paulo está infestada de esposas que valem ouro e companheiras de trabalho pra lá de preciosas.

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