São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 1996
Próximo Texto | Índice

Começa o julgamento da Candelária

DA SUCURSAL DO RIO

Começa hoje o julgamento da chacina da Candelária -em que oito menores foram mortos, em 93, no centro do Rio.
Em sua primeira fase -que deverá durar cerca de 24 horas-, será julgado o soldado PM Marcos Vinícius Borges Emmanuel (veja quadro nesta página).
O ex-soldado da PM Nelson Oliveira dos Santos Cunha, que se entregou na semana passada, confessou ter participado da chacina e incriminou Emmanuel.
Em sua confissão, Cunha negou que os outros três réus tivessem participado da chacina. "Agora está claro que os três foram vítimas de um erro judicial", diz o advogado Francisco Fernandes Correia Lima, 47.
Lima é advogado do soldado da PM Cláudio Luiz dos Santos, um dos três réus que são inocentados na versão de Cunha.
Segundo Lima, seu cliente foi confundido com o ex-soldado Maurício, conhecido como "Sexta-Feira 13", que já morreu.
"O Sexta-Feira 13 era um xerox do Cláudio", diz. Em função da confissão de Cunha, o advogado prepara-se para pedir sua liberdade. Ele e os outros réus estão presos há mais de dois anos.
Testemunhas
A expectativa da defesa é que a promotoria promova o reconhecimento de Cunha pela testemunha Wagner dos Santos. Sobrevivente da chacina, Wagner vive na Suíça para se proteger de ameaças e veio ao Rio especialmente para o julgamento (leia texto ao lado).
Em sua confissão, Cunha disse que o grupo de chacinadores foi formado por ele, Emmanuel, Sexta-Feira 13 e o soldado da PM Marcos Aurélio Alcântara.
Como consequência do inquérito que procura novos envolvidos no crime, foram presos há três semanas Alcântara e mais dois PMs. Foragido, Cunha se entregou.
O advogado Lima disse que vai esperar o julgamento de Emmanuel para fazer o pedido de relaxamento da prisão de seu cliente, Cláudio dos Santos. Os réus deverão ser julgados a cada mês.
Cunha e os três policiais presos há três semanas respondem a inquérito criminal. Pelo menos dois -Cunha e Alcântara- deverão responder a processo, mas ainda não há definição de data para um novo julgamento.
Um dos promotores do 2º Tribunal do Júri, José Muiños Piñeiro Filho, não quis falar sobre o caso. Sobre a situação dos três réus que foram inocentados por Cunha, ele disse que sua posição dependerá do andamento do julgamento.
Acordo
Pela lei, hoje sentarão inicialmente no banco dos réus, a partir das 13h, Marcos Emmanuel, Cláudio Santos, o tenente da PM Marcelo Cortes e o serralheiro Jurandir Gomes de França.
Por um acordo entre os advogados de defesa, o julgamento será desmembrado. Pela ordem, após Emmanuel, serão julgados, mês a mês, França, Cortes e Santos.
A Folha não conseguiu falar com a advogada de Emmanuel, Sandra Bossio, no fim-de-semana.
Bossio tentou na sexta-feira adiar o julgamento, dizendo que algumas etapas investigatórias não foram cumpridas, mas seu pedido foi indeferido.

Próximo Texto: Promotoria pede provas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.