São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Testemunha vê foto de acusado

PAULO CÉSAR CASTRO
DA SUCURSAL DO RIO

Principal testemunha da chacina da Candelária, o ex-lavador de carros Wagner dos Santos, 25, passou o fim-de-semana acautelado na sede da PF (Polícia Federal), no centro do Rio, sob forte esquema de segurança.
Santos disse à Folha ontem, por telefone, que ficou muito chateado porque a Justiça não autorizou que ele fizesse o reconhecimento dos acusados no fim-de-semana. "Saí da Suíça sabendo que faria o reconhecimento e agora estão me negando isso", disse.
Santos, que atualmente mora na Suíça, chegou ao Rio no sábado. No mesmo dia, enviou aos jornalistas uma carta onde contesta parcialmente o depoimento do ex-soldado da PM Nélson Oliveira dos Santos Cunha, 30, que se apresentou à Justiça e confessou participação na chacina.
Santos nega que tenha sido preso pelo PM licenciado Marcos Vinícius Borges Emmanuel na manhã que antecedeu a chacina, junto com o menino de rua conhecido como Neilton, por estar cheirando cola, como afirmou Cunha.
A testemunha diz que neste dia estava na praia da Urca (zona sul do Rio), na companhia de alguns meninos de rua. Voltou à Candelária (centro), segundo ele, somente à noite.
Santos diz que só viu Emmanuel quando foi colocado, junto com outros meninos de rua, no banco de trás do Chevette usado pelos acusados na chacina. A testemunha afirma que Emmanuel estava no banco do carona, ao lado do tenente Marcelo Ferreira Cortes.
Ele disse que não conseguiu ver o rosto do motorista, que ficou de costas. No banco de trás, ao seu lado, Santos diz que estava um homem que ele identificou como sendo Liaffa.
Depois de examinar ontem fotos de Cunha e Liaffa, Santos descartou a possibilidade de que Cunha estivesse no carro. Ele afirmou que foi Liaffa quem atirou contra ele.
Ao defender a realização de um novo reconhecimento, o assistente de acusação, advogado Fernando Fragoso, afirma que o fato pode servir para desfazer a versão de Cunha, que na última quarta-feira assumiu, em juízo, ser o autor dos disparos em Santos.
"Wagner dos Santos quer ver pessoalmente os acusados, pois as fotos que ele tem visto são de jornais e antigas, não sendo possível avaliar muito bem todos os envolvidos", afirmou Fragoso.

Colaborou Paulo César Castro, free-lance para a Folha

Texto Anterior: Promotoria pede provas
Próximo Texto: Começa o julgamento da Candelária
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.