São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 1996
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Amor por mestre vira trabalho de escola

LARISSA PURVINNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele pode ser baixinho, usar óculos e nem ser muito bonito, mas, mesmo assim, despertar paixões.
Para tentar entender como é ser o centro das atenções de dezenas de garotas, um grupo de alunas do Colégio Equipe transformou as relações entre alunos e professores em tema de trabalho de escola.
Para o vídeo, de 30 minutos, foram entrevistados três professores, segundo elas, os mais "assediados" do colégio, além do diretor e da orientadora educacional.
Um dos entrevistados, Affonso Novello, 32, professor de biologia, sabe bem como é enfrentar tanto assédio. "Entrei agora no colégio e virei o centro da atenções."
O professor diz que costuma receber bilhetinhos. "Recebo propostas para sair e até chegar nas finalidades, mas é brincadeira."
Affonso diz aproveitar a situação para chamar atenção para a sua disciplina. "O lado profissional tem de ser preservado."
Mal-entendido
Outro entrevistado, o professor de literatura Ricardo Barreto, 29, diz que procura "não dar corda" quando percebe algum interesse que vá além do conteúdo da aula.
O "método" não livrou o professor de mal-entendidos. Ricardo conta que foi procurado por uma aluna para conversar.
"Ela disse que sabia que eu gostava dela. Já tinha falado com a mãe, que adorou a história e deu autorização para o namoro. Falei que não era bem assim e ela ficou extremamente decepcionada."
O professor de filosofia Pedro Paulo Pimenta, 25, tem suas explicações para o interesse despertado pelos professores.
"Existe uma insatisfação. As meninas amadurecem mais rápido que os meninos. Fantasiam que o professor é experiente, inteligente, maduro."
O outro lado
Para as autoras do vídeo, o trabalho serviu para entender o lado dos professores. "Descobrimos que muitos deles moram com as namoradas. Eles têm uma vida além da escola", diz Talita Canazza, 16.
Segundo Tarsilla Alves, 15, outra conclusão do grupo é que muitas vezes, os professores são disputados como troféus. "Há muita competição, cada menina tenta conseguir mais atenção do professor. Ele é um para 40."
O diretor do Núcleo do Colégio Equipe, Luís Márcio Barbosa, 33, diz que não existe uma regra que impeça o namoro entre professores e alunas. "Afeto não se proíbe. Se atrapalhar o trabalho, chamamos os dois para conversar."
O próprio diretor diz que foi apaixonado por uma professora de português na adolescência. No vídeo, conta que decorava poemas de Camões para chamar a atenção.
A psicóloga Graça Maria Marino Totaro, 33, orientadora educacional do Equipe, diz que muitas vezes, o fato de uma aluna se apaixonar pelo professor pode até ajudar.
"Muitas vezes o interesse em agradar o professor faz com que o aluno se saia melhor nas provas."
Mas, segundo ela, a idealização excessiva pode ser prejudicial: o aluno acha que nada do que fizer vai ser suficiente para agradar o professor e acaba "paralisado".
Final feliz
Embora sejam exceções, há casos em que paixão acaba em namoro e até casamento. O professor de redação Agnelo de Carvalho Pacheco, 32, casou-se no ano passado com uma ex-aluna, Meire Gonzaga de Carvalho Pacheco, 23.
Os dois se conheceram no cursinho Anglo, onde Agnelo também dá aulas. "No começo fiquei espantada. Achei que não era sério", diz Meire.
Ela diz que nunca tinha se apaixonado por professores. "Mas sempre preferi os mais velhos."

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