São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Expulsão é aprovada em casos extremos

DA REPORTAGEM LOCAL

A medida de expulsar um aluno de uma escola só deve ser tomada em um caso extremo e depois de tentadas outras formas mais brandas de punição. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela Folha.
Os pais do estudante S.A.R., 14, recorreram ao embaixador da Espanha para tentar reverter a expulsão do filho do colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo. S.A.R. atirou uma cadeira por uma janela do 2º andar do colégio.
Segundo a diretoria, S.A.R. foi o autor de ocorrência grave, que pôs outras pessoas em risco.
Autodisciplina
Moacir Gadotti, 54, professor-titular da Faculdade de Educação da USP, afirma que "a disciplina só é educativa quando se torna uma autodisciplina". "A pessoa respeita a regra porque está convencida de que ela é importante."
Para Gadotti, quando a exclusão de um aluno de uma escola se justificar, em um caso extremo, é preciso antes ter sido precedida por etapas de punição progressivamente mais rigorosas, como advertências verbais, por escrito, aos pais e suspensões.
"E a decisão de afastar um aluno deve ser democrática, tomada de forma colegiada, em que todas as circunstâncias em que o fato ocorreu sejam analisadas", aconselha.
João Gualberto de Carvalho Menezes, 67, presidente do Conselho Municipal de Educação, diz ser contrário à tese da expulsão como princípio para punir faltas disciplinares graves.
Segundo ele, o procedimento adotado pela maioria das escolas de São Paulo de "transferir compulsoriamente" alunos com problemas de disciplina graves ou recorrentes é uma saída, pois evita que o estudante fique com a marca de ter sido expulso.
"Mas há casos que precisam de determinado tratamento, não disponível na escola em questão, como um apoio psicopedagógico", diz Menezes. "Quando não há outra saída, a transferência compulsória é uma forma de permitir que o aluno continue a estudar."
Limites
Para Mauro de Salles Aguiar, 46, diretor do Colégio Bandeirantes, é preciso "estabelecer limites aos adolescentes".
Segundo ele, ocorrências que envolvam violência, "como o aluno que usa a força ou que monta gangues na escola, ou ainda quando a pessoa está sistematicamente perturbando o ambiente de aula, são típicas de afastamento".
Myriam Krasilchik, ex-diretora da Faculdade de Educação da USP e atual vice-reitora da universidade, as escolas precisam deixar claros seus limites aos alunos.
Se um aluno desrespeitar esses limites, é preciso estudar quais punições serão adotadas e o efeito que essas medidas realmente tiveram sobre o estudante.
Loucuras
O senador Darcy Ribeiro (PDT) não admite em hipótese alguma a expulsão de um aluno.
"A adolescência é uma fase de transformação muito rápida. É como se eles quisessem andar na velocidade de um trem vazio, mas com carga pesada. É são capazes de fazer loucuras. Se os pais ou os educadores não percebem, é um absurdo", diz.
Para Ribeiro, 72, a assistência psicológica seria uma forma de ajudar um estudante que tivesse cometido um ato mais grave.

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