São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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'Lawrence' convém à madrugada do 1º de Maio

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Lawrence da Arábia" (Globo, 1h05) pode ser uma excelente solução para o espectador. Para os programadores, é um problema: como encaixar mais de 3 horas de filme, considerando-se que não serve para Natal ou Páscoa?
A madrugada de 1º de Maio bem a calhar: quarta é feriado, e ninguém reclamará de passar a madrugada com Peter O'Toole fazendo o intelectual T.E. Lawrence, aqui um militar que, a mando da Coroa, dá uma mão aos árabes durante a Primeira Guerra Mundial.
Mas política não tem caráter, muda conforme os interesses. Lawrence não tem interesse, mas a paixão que aprende a nutrir por uma outra civilização. É nessa tensão entre sentimento e razão que David Lean instala seu filme.
Lawrence, como o filme, pende para o lado árabe: é o homem que quer escapar da cultura européia, da Inglaterra, dos constrangimentos da civilização cristã.
É partir desse princípio que David Lean constrói seu épico: faz da grande produção uma ponte para chegar ao confronto que corrói Lawrence. Ser ou não ser (árabe, europeu) é a sua questão.
Estamos então diante de um caso raro de épico em que o espetáculo é colocado a serviço do tormentoso mundo interior do personagem, às voltas com uma realidade também tormentosa.
Ou seja, o 1º de Maio é dia a calhar para este filme. Temos um filme trabalhoso de fazer, pela complexidade de sua proposta, pela necessidade de conciliar superprodução e interioridade. Mas também em que tudo é conforto, no sentido em que David Lean limpou o terreno para o espectador.
(IA)

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