São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Tamanho é documento

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

O principal objetivo do empresário é a maximização do lucro de sua atividade.
Isso não é diferente para o produtor de leite. Por essa razão, é interessante examinar os ganhos do produtor e, se possível, separando-os por sistema de produção.
Essa é a proposta deste artigo.
Antes de analisar os dados, relacionamos abaixo alguns conceitos.
1 - Custo operacional efetivo, que refere-se à soma das despesas diretas que implicam desembolso do produtor.
2 - Custo operacional total, que é igual ao custo operacional efetivo mais depreciação de benfeitorias, máquinas, animais adultos, forragens não-anuais, mais o salário da mão-de-obra familiar.
3 - Custo total é igual ao custo operacional total, mais a remuneração do capital investido na atividade.
A partir desses três conceitos, pode-se chegar a outros três, que interessam na análise realizada no artigo.
Margem bruta é igual a renda bruta (venda de leite e de animais) menos o custo operacional efetivo.
Margem líquida é igual à renda bruta menos o custo operacional total.
Lucro é igual à renda bruta menos o custo total.
Agora, vamos à análise dos dados da Tabela 1. Eles fazem parte do "Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Minas Gerais", resultado de uma pesquisa que realizei, coletando dados de uma amostra de mil produtores, distribuídos em todo o Estado de Minas Gerais.
A pesquisa é parte do projeto "Sistema Agroindustrial do Leite", coordenado pelo Sebrae (MG), em parceria com o Sebrae nacional e a Ocemg.
O exame dos dados da tabela 1 permite quatro importantes conclusões: 1) existe grande concentração de pequenos produtores no Estado de Minas; 2) em decorrência da primeira conclusão, a produção média por fazenda (96 litros/dia) é pequena; 3) para o total da amostra, as margens bruta e líquida são, relativamente, pequenas face ao capital investido e às dificuldades diárias da pecuária leiteira; 4) alta escala de produção é essencial para que a produção de leite seja um bom negócio.
A crescente abertura do país para o mercado internacional leva à tentação de fazer comparações entre países. No caso do leite, tais comparações acontecem, com maior frequência, em relação à Argentina.
Ainda que se deva ter cuidado para não cometer injustiças, a comparação sempre deixa algum ensinamento.
Por isso, vamos a ela. Enquanto a produção média de Minas Gerais é de 96 litros de leite por dia, a da Argentina é de 500 litros.
Economistas argentinos já concluíram que 1.500 litros por dia é a produção mínima para que a atividade seja viável naquele país.
A principal lição que os dados apresentados deixa é que, no leite, tamanho é documento.
Os ganhos por litro de leite são pequenos e, por isso, a produção só é um bom negócio quando se dá em grande escala. Aumento de produtividade é condição necessária, mas não suficiente para que a pecuária leiteira seja atraente. Isso sempre foi verdade. Agora ela está escancarada pela liberação do mercado doméstico e pela maior abertura para o mercado internacional.

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