São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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'Família Sol, Lá, Si, Dó' satiriza volta aos 70

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há algo perverso sobre a atual fascinação retrô pelos anos 70. A moda era horrorosa, a política pior, mas nada supera a bobagem das séries de TV. Como a capacidade para a auto-humilhação humana é infinita, a diretora Berry Thomas exuma uma das séries mais populares da década no filme "Família Sol, Lá, Si, Dó".
Não tem nada a ver com a "Família Dó, Ré, Mi" e sim com a série "Brady Bunch". Mas ambas tratam de uma família de adolescentes musicais e inóquos. O enredo gira em torno de uma "adorável senhora" e suas três filhas, que casou com Brady, pai de três filhos.
A América dos episódios de 1969-1974 não estava em guerra com o Vietnã, não conhecia corrupção política, revolução sexual, drogas psicodélicas ou Guerra Fria. Era uma América pudica e ingênua.
Tentativas anteriores de faturar com a nostalgia dos "baby boomers" (a geração que via TV demais, segundo psicólogos da mídia), como as adaptações cinematográficas de "Os Flintstones" e "Família Buscapé", fracassaram ao tentar atualizar séries que não tinham a menor malícia.
"Família Sol, La, Si, Dó" segue o caminho oposto. O conceito básico é que os Brady vivem num vácuo, em Los Angeles, alheios às mudanças das últimas décadas. Papai Brady continua a saber tudo e gravatas de bolinhas voltam a combinas com casacos xadrez e calças listradas.
O choque entre os Brady e o "mundo real" garante as risadas. A filha do meio, Jan, que sempre fez papel de ciumenta da mais velha, Marcia, agora ouve vozes falando em "matar, matar".
Marcia continua linda. Tão linda que sua melhor amiga está louca para transar com ela. Greg, o filho mais velho, ainda se acha o roqueiro mais papo firme, cantando sobre arco-íris e borboletas. Mas ao perseguir (literalmente) as colegas de aula, com a guitarra em punho, só consegue ser considerado um grande babacão.
Tudo é muito mais engraçado quando se conhece a série, porque o roteiro é pouco mais do que uma colcha de retalhos de seus melhores momentos. Além disso, há muitas citações a programas do período e participações como os Monkees, a drag queen RuPaul (no papel de psicóloga entediada, porque Jan não se droga, não engravida e nem tenta se matar) e integrantes do elenco original.
Ver ""Família Sol, Lá, Si, Dó" é como redescobrir um velho brinquedo, ver como esse brinquedo era estúpido, e ainda assim brincar com ele e se divertir.

Vídeo: "A Família Sol, Lá, Si, Dó"
Direção: Betty Thomas
Elenco: Shelley Long, Gary Cole, Michael McKean
Distribuição: CIC Vídeo (tel. 011/816-7391)

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