São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Somos milionários?

GILBERTO DIMENSTEIN

Um dos mais importantes documentaristas sociais americanos, George Stoney tem 79 anos e dá aulas na Faculdade de Cinema da Universidade de Nova York.
Apesar da idade, ele parece menino ao falar de seu novo projeto. Prepara incursão pela África e América Latina, filmando a influência do educador brasileiro Paulo Freire. "Ele disseminou extraordinárias experiências pelo planeta, e, agora, pretendemos inspirar mais professores, inclusive nos EUA", diz Stoney.
As universidades estão povoadas de personagens como Stoney. Adoram ensinar, não param de ter idéias, são admirados pelos alunos -e servem como um vergonhoso exemplo para o Brasil.
Esses admiráveis jovens que nunca envelhecem são um dos ingredientes vitais do ambiente universitário americano, onde se gastam, por ano, US$ 200 bilhões para 800 mil professores ensinarem 9 milhões de estudantes.
Devido à qualidade da pesquisa, abocanham a maioria dos Prêmios Nobel -só em economia, sete em cada dez vencedores são daqui.
Professores são disputados a tapa entre as universidades, valorizando os salários. As estrelas chegam a ganhar até US$ 15 mil por mês. Trabalham até quando podem.
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Esses poucos números ressaltam um crime no Brasil, onde elevar o mínimo a R$ 112 é "extravagância". Desde 1990, por causa do medo da mudança nas leis de aposentadoria, houve três levas de êxodo nas universidades.
Na maior potência do planeta, os professores se aposentam aos 70 anos e, mesmo assim, encontram meios de continuar vinculados à universidade. No Brasil, podem se aposentar até com menos de 50 anos de idade.
Deve ser porque somos um país milionário, e o IBGE ainda não nos avisou.
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Não vou entrar na discussão sobre quem é o culpado. Já sei, os salários são baixos. No futuro, esse movimento antecipado de aposentadoria em massa será visto como marco de uma elite intelectual atolada na lama. Nem a ditadura, ao perseguir professores, provocou tamanho êxodo.
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Quem quiser fugir da indigência e matricular o filho numa universidade daqui, prepare-se para a garfada. Uma boa universidade (Harvard ou Columbia, por exemplo) sai, em média, US$ 2.500 por mês. Mais do que o salário médio de um professor universitário brasileiro.
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Os testes de QI mostram que a criança brasileira está cada vez mais inteligente -uma tendência mundial. Comparando testes em várias países do mundo, a revista "Newsweek" informa que a inteligência média de uma criança hoje seria comparada à de um quase gênio 50 anos atrás.
Especialistas especulam vários motivos, entre eles melhoria das escolas, da nutrição, pais que dão mais espaço à criatividade e expressão, jogos educativos, videogames.
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PS - A condenação do PM da Candelária apenas mostra mais uma vez que o Brasil, apesar de todas as dificuldades, omissões e impunidade, está melhorando.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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