São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parentes dos mortos exigem correção dos atestados

DA SUCURSAL DO RIO

Viúva, filha e irmã de militantes do PC do B mortos pelo Exército na repressão à guerrilha do Araguaia, Victória Grabois, 52, espera, com a revelação das circunstâncias reais das mortes dos três, conseguir a correção dos atestados de óbito emitidos nos nomes deles.
Desde os anos 70, a partir de informações do PC do B e de moradores da região, ela sabe como e onde os três morreram.
Em 1973, foram mortos seu pai, Maurício Grabois, seu marido, Gilberto Olímpio Maria, e seu irmão, André Grabois.
André foi morto em 14 de outubro, emboscado quando procurava comida. Maurício e Gilberto morreram em 25 de dezembro, com outros militantes que foram cercados pelos militares.
Tiro na cabeça
"Em 1980, quando estivemos no Araguaia com a Ordem dos Advogados do Brasil, um bate-pau (guia), João Pernambuco, contou que levou uma companhia do Exército até onde estava meu pai. Ali, um capitão o matou com um tiro na cabeça."
Maurício Grabois era o comandante da guerrilha e estava com malária. Àquela altura, os guerrilheiros eram apenas 40. Ao ser abatido, comia um naco de carne.
Nos dois dias seguintes, apenas 20 guerrilheiros voltaram a contactar a guerrilha.
"Os outros foram mortos, entre eles meu pai e meu marido. O Oswaldão (Oswaldo Orlando Costa, considerado uma lenda na região) conseguiu escapar."
Sem informações
Um dos atestados de óbito que Victória quer corrigir, o do marido, praticamente não dá informação nenhuma sobre ele e sobre as circunstâncias de sua morte.
Como data da morte, o documento assinala apenas o ano de 1973. Local, hora, residência, causa e médico atestante aparecem como ignorados.
O documento foi emitido a pedido de Igor Grabois Olímpio, filho de Gilberto e Victória, em 31 de janeiro passado.
Maurício Grabois foi deputado constituinte em 1946 pelo Partido Comunista, no qual ingressou em 1933.
Correção do atestado
Outra parente de um militante morto no Araguaia, Júlia Lund, mãe de Guilherme Lund, disse à Folha que também vai reivindicar a correção do atestado.
Ele também foi morto em 25 de dezembro de 1973. "O que nós pedimos, eles não querem esclarecer: as circunstâncias em que morreram e onde foram enterrados", afirmou Júlia Lund.

Texto Anterior: Famílias vão pedir abertura de arquivos
Próximo Texto: PM diz sofrer ameaça para não revelar o que sabe do Riocentro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.